Em 1799, o Grão-Duque Ferdinando III de Lorena comprou esta obra de Rafael Sanzio, de um antiquário por 300 zecchini. A obra é de caráter religioso e de devoção privada. É considerada pelos historiadores a primeira obra de Rafael onde é possível notar a influência de Leonardo da Vinci.

O Grão-Duque e o quadro:

O Grão-Duque nunca se separava deste quadro, e desde então a obra se chama “Madonna del Granduca” (Nossa Senhora do Grão-Duque). Até mesmo durante a dominação napoleônica, quando Ferdinando foi para o exílio, levou a obra para Viena consigo.

A família grão-ducal realmente gostava muito da obra. Tanto é que quando Ferdinando III retornou à Florença, após o exílio, a obra foi exposta de fato nos seus aposentos no Palazzo Pitti.

O grão-duque permitia que a obra fosse mostrada em público apenas quando ele estava ausente de Florença. Em 1882, a obra foi colocada no local em que o vemos hoje, na Sala de Saturno do Palazzo Pitti.

A influência de Leonardo da Vinci

O quadro foi realizado por Rafael por volta de 1506-7, durante sua estadia em Florença entre 1504 e 1508, quando Michelangelo, Leonardo e Fra Bartolomeo estavam produzindo suas obras-primas na cidade.

Vindo de uma formação na botega de Perugino, o jovem Rafael amadureceu naqueles anos passados em Florença, abordando várias vezes o tema da Virgem e do Menino – também com pequeno São João ou São José. Rafael foi influenciado por uma maneira mais monumental de pintura, mais volumétrica obtida com um claro-escuro sutil derivado do sfumato de Leonardo. Rafael estimulou a sua atenção para expressões de afetos em direção a uma maior intensidade emocional.

Descrição da obra

É uma das obras mais amadas de Rafael, onde o artista demonstra sua capacidade de representar o sagrado de forma muito humana. Na obra, a Virgem Maria é retratada em pé, com o Menino nos braços; Vestita de vermelho e azul, Maria parece caminhar em direção do expectador.

Enquanto Maria olha para baixo tristemente, o Menino Jesus olha diretamente o expectador, um verdadeiro convite para contemplar aquele rosto doce e sério. Toda a composição comunica, em sua simplicidade, o profundo relacionamento de afeto que os une e a dolorosa consciência do futuro sacrifício de Cristo.

A Virgem dos Cravos – Leonardo da Vinci

A composição não nasceu com o fundo escuro: os exames radiográficos realizados pelo Opificio delle Pietre Dure revelaram que, sob a cor preta que circunda as figuras, existia um interior com pilares sustentando arcos e um vislumbre de uma paisagem à direita, como visto na Madonna dei Garofani (A Virgem dos Cravos) ou na Sagrada Família de São Petersburgo.

O raio X mostra a camada da pintura coberta pelo fundo preto pintado nas laterais da Madonna e da Criança (1) com, atrás, uma balaustrada (2) e uma paisagem (3); uma estrutura atrás da Madonna (4) e outra estrutura é visível à esquerda (5)

Um cenário que acentuava o tom doméstico da imagem. Portanto, é plausível que, posteriormente, foi decidido eliminar o fundo a fim de satisfazer as necessidades da mudança de gosto e deixar o grupo central no magnífico isolamento que vemos hoje.

O Gabinete de Desenhos e Impressões da Galleria degli Uffizi preserva o estudo composicional de Rafael desta obra.

Desenho compositivo Rafael – Foto Galleria degli Uffizi

No desenho é possível acompanhar o processo criativo de Rafael que, antes de chegar à solução pictórica definitiva, considerou diferentes possibilidades.

A princípio, o artista enquadrou a Virgem e o Menino em uma paisagem dentro de uma moldura inicialmente circular e depois oval; depois, optou por uma forma retangular, que corresponde à versão pintada.

No desenho, Maria segura o Filho com o braço esquerdo, enquanto a direita está no colo, em uma pose que lembra, como suas roupas, a moldura circular desenhada na primeira fase.

Na pintura, a relação entre as figuras foi alterada: a Virgem apóia a Criança com os dois braços, o busto parece mais frontal e as cabeças mais próximas, numa pose que denota uma reflexão sobre os modelos do século XV, em especial Perugino e Luca della Robbia.

O naturalismo da imagem é acentuado pela condução gráfica: um sinal luminoso em pedra negra molda as figuras com um acentuado claro-escuro que parece derivar de Leonardo.

A obra, como tantas outras de Rafael, faz parte do acervo da Galleria Palatina em Florença.

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Cristiane de Oliveira

Brasileira do Rio de Janeiro, vive em Florença ha 17 anos. Apaixonada por arte, historia e bons vinhos. Guia de turismo e sommelier na Toscana.

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