Além de obras conhecidas como os afrescos da Cúpula feitos por Vasari e Zuccari e o relógio da contra fachada de Paolo Uccello, a Catedral de Santa Maria del Fiore abriga outros tesouros que frequentemente são relegados a segundo plano: os vitrais do Duomo de Florença.

Difícil de ver, fotografar e estudar, os vitrais da igreja são obras de arte que passam quase que despercebidos, ainda que desenhados pelos grandes mestres que participaram ativamente da construção e decoração de Santa Maria del Fiore.

Os vitrais do Duomo de Florença

Construído em menos de meio século, de 1394 a 1444, o grandioso ciclo de 44 vitrais, originalmente eram 45, representa o programa de arte em vidro mais monumental da Itália do século XV e é um dos mais importantes do mundo principalmente devido à grande percentagem de vidro original e os artistas que executaram os desenhos preparatórios que inspiraram os mestres de vidro para a realização das composições. A lista de autores inclui os principais nomes da arte florentina do início do Renascimento: Donatello, Lorenzo Ghiberti, Paolo Uccello, Andrea del Castagno e Agnolo Gaddi.

Uma leitura abrangente dos temas dos vitrais mostra que a intenção do programa iconográfico era evocar a luz espiritual que ilumina os fiéis através da vida de Cristo, de Maria, a quem a catedral florentina é dedicada, e dos santos.

Lorenzo Ghibert: Assunção de Maria

O nome de Lorenzo Ghiberti está ligado a 36 dos atuais 44 vitrais, incluindo A Assunção de Maria, o vitral que é localizado na correspondência da rosácea central da contra fachada da Catedral. Este é um dos primeiros desenhos preparatórios propostos pelo artista, como ele próprio relata em seus Comentários:

«disegnai nella faccia di Santa Maria del Fiore, nell’occhio di mezzo, l’assunzione di Nostra Donna e disegnai gli altri [vetri che] sono dallato».

Medindo mais de 5 metros de diâmetro, a obra representa a Virgem dentro de uma moldura gótica de santos e profetas no momento triunfal de sua Assunção ao Céu, onde Jesus, entre os anjos, com a coroa na mão, a espera.

No vitral da rosácea, a solene figura frontal de Maria ainda é ligada à linguagem giottesca e à de Andrea Pisano, mas também é precursora de traços humanísticos principalmente na roupagem dos personagens que dão movimento e profundidade a obra.

Na realidade, a cena ilustra dois episódios da vida da Virgem: Coroação e da Assunção . Outros episódios da história de Maria eram previstos para os vitrais do corredor direito, mas nunca foram realizados. O programa iconográfico dos vitrais do Duomo de Florença era a exaltação do culto de Maria ao qual a Catedral é dedicada.

A intenção do ciclo dos vitrais era traçar um caminho de fé que, partindo da imagem da Assunção da Virgem na rosácea, percorria a nave central e terminava com os episódios salientes da vida de Cristo ilustrados nas janelas do tambor da Cúpula de Brunelleschi.

Maria está inserida em um nicho ogival de raios de luz dourados, apoiada em uma verdadeira dança de anjos. A intensa luz dourada que a Virgem emana irradia e permeia toda a cena. A Madonna tem suas mãos unidas em oração e veste um suntuoso manto branco decorado com estrelas semelhantes a flores. Anjos e Serafins giram em torno dela, levantando-a, com roupas brilhantes e em movimento que quase é possível ouvir suas vozes e canções.

Detalhe: Coroação de Maria

Acima de Jesus tem uma coroa que está prestes a repousar sobre a cabeça da Virgem. Uma moldura em forma de guirlanda com 14 figuras (12 apóstolos e 2 profetas) alternando com elementos florais, encerra a cena.

O restauro

A riqueza dos materiais, o refinamento da técnica, a atenção à cor e às relações cromáticas e a originalidade composicional dessas obras de arte são plenamente apreciadas apenas durante as operações de restauração, um momento especial e delicado que, pode-se dizer , começou logo após a sua conclusão e nunca cessou devido ao mau tempo, ataque de raios e eventos traumáticos.

Vitrais do Duomo de Florença
Exposição Batistério: A Luz de Maria – 2015

Ao longo dos anos, houve intervenções de integração e reconstrução parcial dos vitrais. O último restauro do vitral da Assunção de Maria foi finalizado em 2015 e para alegria geral, antes dele ser recolado no local original, foi exposto ao público no Batistério de San Giovanni.

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Cristiane de Oliveira

Brasileira do Rio de Janeiro, vive em Florença ha 17 anos. Apaixonada por arte, historia e bons vinhos. Guia de turismo e sommelier na Toscana.

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