Era 11 de novembro de 1487, quando chegou em Florença o primeiro camelopardo, ou seja, a girafa de Lorenzo, o Magnifico.

O cameleopardo

Camelopardo. Em outras palavras, parece um cruzamento fantástico de dois animais que encontraríamos facilmente ao ler as páginas de um bestiário medieval. E, em vez disso, era o nome que os romanos haviam dado à girafa, ligando as características físicas do camelo com o leopardo. Ainda hoje, o nome científico é Girafa camelopardalis.

Temos notícias que Júlio César, na antiga Roma, depois dos sucessos no Egito, se apresentou em Roma com uma variedade de criaturas estranhas, incluindo uma girafa. Foi a primeira vez na Europa.

O presente do sultão do Egito

Em 11 de novembro de 1487, entre a incredulidade de todos, era vista em Florença pela primeira vez uma girafa. Embora existam fontes segundo as quais Federico III da Sicília recebeu uma girafa em 1261 pelo sultão do Egito em troca de um urso branco, e outras segundo as quais o duque da Calábria, Ercole I d’Este, duque de Ferrara e Ferdinando I de Nápoles, possuíam girafas, estas não tiveram o sucesso da girafa de Lorenzo, retratada em pinturas em afrescos por diversos artistas da época e celebrada também nas poesias.

Chegara provavelmente como presente do sultão do Egito al-Ashraf Qaitbay. Não existem documentações que comprovem que realmente foi Qaitbay quem enviou o presente a Lorenzo, mas sabemos que o sultão era proprietário de diversas girafas e que pediu ajuda de Lorenzo contra os otomanos logo após a chegada da girafa em Florença.

Giorgio Vasari, O Magnífico, recebendo a homenagem dos embaixadores (Salão de Lorenzo, o Magnífico, Museu do Palazzo Vecchio, Florença)
Giorgio Vasari, O Magnífico, recebendo a homenagem dos embaixadores (Salão de Lorenzo, o Magnífico, Museu do Palazzo Vecchio, Florença)

Junto com a girafa, chegaram também um leão muito grande e cabras muito estranhas. A cidade dos Medici foi transformada em uma cidade exótica que mostra o quão extravagante, refinada a família poderia ser. Lorenzo de ‘Medici, o Magnífico, realmente era muito aberto as novidades e havia muito prestígio entre os chefes de estados da época.

A girafa pelas ruas de Florença

A Adoração dos Reis Magos de Domenico Ghirlandaio, parte de um ciclo na Capela Tornabuoni (Basílica de Santa Maria Novella, Florença) foi pintada logo após a chegada da girafa em Florença e mostra o animal descendo  uma colina no lado direito.
A Adoração dos Reis Magos de Domenico Ghirlandaio – Capela Tornabuoni (Basílica de Santa Maria Novella, Florença) foi pintada logo após a chegada da girafa em Florença e mostra o animal descendo uma colina no lado direito.

A girafa de Lorenzo, o Magnifico ficou muito famosa na cidade e todos queriam ver esse estranho animal. Assim a girafa desfilou pelas principais ruas de Florença, seguida por uma grande multidão. Segundo a tradição, até as freiras que viviam em clausura solicitaram autorização para poder ver o animal exótica.

A fim de conseguir mais prestígio e influêcia política, Lorenzo prometeu enviar a girafa como presente a Ana da França, filha do rei Luís XI. Ana da França, apesar de ter escrito para Lorenzo lembrando-o da sua promessa, ficou desapontada. Enquanto isso, Lorenzo mandou construir para o animal alguns estábulos especiais na Vila de Poggio a Caiano e na Via della Scala em Florença.

O triste destino da girafa

Infelizmente a girafa não durou muito tempo. Em 2 de janeiro de 1488, a girafa quebrou o pescoço e terminou sua aventura em Florença. Mas ela não terminou sua peregrinação porque muitos artistas a retrataram em afrescos, pinturas e esculturas: Domenico Ghirlandaio, Giorgio Vasari, Andrea del Sarto, Tribolo, Piero di Cosimo, Jacopo Ligozzi e muitos outros, incluindo Giulio Romano.

Moisés e a maná pintada por Bachiacca: em primeiro plano a famosa girafa. National Gallery of Art, Washington
Moisés e a maná pintada por Bachiacca: em primeiro plano a famosa girafa – National Gallery of Art, Washington

Na Europa, nenhuma girafa foi vista viva até Mehmet Ali Pasha ter enviado três girafas como presentes em 1827: uma a George IV do Reino Unido, uma a Francisco II de Habsburgo-Lorena, uma terceira a Carlos X da França. Cada uma delas causou um grande alvoroço nas cidades de Londres, Viena e Paris, mas apenas a última, chamada Zarafa, sobreviveu por mais de dois anos.


Cristiane de Oliveira

Brasileira do Rio de Janeiro, vive em Florença ha 17 anos. Apaixonada por arte, historia e bons vinhos. Guia de turismo e sommelier na Toscana.

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