Guido di Pietro, conhecido como Guidolino – possivelmente devido à sua baixa estatura – e fra Giovanni da Fiesole, foi reconhecido como “angelicus pictor” após sua morte em 1455, título registrado no Theotocon de fra Domenico da Corella em 1464. Ele é amplamente conhecido como Beato Angelico, um dos maiores pintores do Renascimento, famoso por suas obras de inspiração religiosa. Sua beatificação oficial ocorreu em 1982, realizada pelo Papa João Paulo II. Beato Angelico é lembrado por sua devoção e talento artístico únicos.

Uma Exposição Inesquecível

Setenta anos se passaram e a Fundação Palazzo Strozzi, em colaboração com a Direção Regional de Museus Nacionais da Toscana, organizou uma exposição espetacular dedicada a ele, que acontece em duas sedes: no Museu de San Marco e no Palazzo Strozzi, sob a curadoria de Carl Brandon Strehlke, com a colaboração de Stefano Casciu e Angelo Tartuferi, até 25 de janeiro de 2026. É uma oportunidade rara de ver tantas obras suas reunidas. Ao final da visita, o espectador sai deslumbrado pela beleza avassaladora. Deseja visitar a mostra com um guia brasileiro? Fale conosco!

A Profundidade do Seu Trabalho

Fra Giovanni foi um pintor singular e inovador, mestre em compreender as lógicas espaciais e a expressão natural dos corpos e gestos, seguindo os passos de Masaccio e Donatello. Ele transformou a natureza em uma explosão de cores vibrantes e irreais, criando cenários que remetem a um paraíso idealizado. Suas obras retratam um mundo puro, sem sombras ou manchas, onde até o sofrimento é suavizado, como o sangue que não transmite dor. Assim, ele deu vida a uma utopia visual, onde o Evangelho se torna cotidiano e tangível.

A Humildade que Transparece na Arte

Sua origem humilde, de Mugello – ao contrário de Giotto, que era filho de um ourives próspero – moldou sua profunda humildade, que permeava seu modo de pintar. Ele se dedicava com atenção amorosa aos detalhes, aos pequenos gestos e olhares furtivos, aos silêncios. A força sugestiva de suas Nossas Senhoras e predelas reside mais nos gestos contidos do que nos exibidos, no que se esconde nos cantos em vez dos primeiros planos. A profundidade da perspectiva e as pausas bem medidas criam uma intensidade única.

A Deposição Strozzi: Um Convite à Reflexão

A exposição no Palazzo Strozzi se inicia com a Deposição Strozzi, talvez sua obra-prima, datada de 1432. Neste vasto e luminoso cenário, o corpo de Cristo é lentamente descido, enquanto cada figura lida com sua dor com dignidade. Somente duas pessoas choram, quase invisíveis: uma mulher ao fundo, enxugando as lágrimas, e um homem à direita, coberto pela sombra, que oculta o rosto. Esta obra convida o espectador a permanecer em silêncio e a orar

Os Lugares que Inspiraram sua Arte

A exposição também narra os lugares que marcaram sua vida, como os conventos da Ordem da Observância, incluindo San Domenico em Fiesole e San Marco. Entre as obras em exibição, destaca-se um políptico danificado que, graças a um restauro, recuperou sua vitalidade. Este políptico, que inclui a Madonna central, é o manifesto da exposição e se reúne a cinco painéis da predela que estavam dispersos entre Berlim, Altenburg e o Vaticano.

A Evolução do Estilo de Angelico

As obras da juventude de Angelico dialogam no Museu de San Marco, onde o políptico para o altar maior de San Domenico foi restaurado. A cronologia de sua evolução artística é fundamental para compreender sua jornada. A mostra permite uma reflexão sobre as mudanças de estilo, desde suas primeiras obras até a maturidade, onde a pala para o altar maior de San Marco, datada de 1440-1442, é um marco de sua genialidade.

A Luz que Realça a Arteà

A iluminação impecável da exposição destaca a beleza do ouro e a sensibilidade dos metais brilhantes, elementos essenciais na transfiguração luminosa da realidade na obra de Angelico. Essa atenção à iluminação é um exemplo a ser seguido por diretores de museus, pois muitas vezes a iluminação uniforme prejudica a percepção das qualidades únicas das obras.

Um Chamado à Valorização do Patrimônio

A mostra não apenas reúne obras-primas, mas também provoca uma reflexão sobre a importância de valorizar e compartilhar o patrimônio artístico. Esperamos que eventos como este inspirem a valorização de outras obras, como o Cristo coroado de espinhos, garantindo que sejam vistas e apreciadas por todos. Esta exposição, fruto de esforço e dedicação, é uma oportunidade imperdível para se conectar com a arte do Beato Angelico.

photos: ElaBialkowskaOKNOstudio – Palazzo Strozzi


Cristiane de Oliveira

Brasileira do Rio de Janeiro, vive em Florença ha 17 anos. Apaixonada por arte, historia e bons vinhos. Guia de turismo e sommelier na Toscana.

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