Alguns eventos são destinados a ficarem na nossa memória e um deles é Shine, a exposição de Jeff Koons em Florença, hospedada no Palazzo Strozzi até o dia 30 de Janeiro de 2022. Jeff Koons é um dos maiores artistas contemporâneos e detentor de vários recordes no mundo da arte.

Palazzo Strozzi, Florença

Mais de quarenta anos da carreira do artista americano, contados através de suas obras: das famosas esculturas em metal perfeitamente polida, aos icônicos brinquedos infláveis ​​como o famoso Rabbit (vendido na Christie’s por 91 milhões de dólares, um recorde para uma obra de arte de um ‘artista vivo) e mais: Ballon Dogg, o ícone pop Hulk e Elephant, até a série Gazing Ball, na qual esferas de cristal muito brilhantes são posicionadas em esculturas e pinturas do passado.

Um pouco de história

É o artista do superlativo: o mais caro, o mais rico, o mais famoso, o mais ambicioso e o mais criticado.

Jeff Koons nasceu na Pensilvânia em 1955 em uma família de classe média. Foi incentivado a fazer arte por seus pais, que o fizeram frequentar cursos de desenho aos cinco anos de idade. Posteriormente, Koons começou a pintar copiando obras de artistas famosos, então exibidos por seu pai em sua loja de móveis: um certificado de confiança e aprovação que é importante para a autoestima de uma criança de nove anos.

Pátio Palazzo Strozzi – Jeff Koons, Balloon Monkey (Blue) 2006-2013 – Private collection. © Jeff Koons

Para os clientes do seu pai, o pequeno Jeffrey, conhecido como Jeff, copiava obras de artistas do passado, principalmente franceses. O desenho foi fundamental para mais tarde o artista abordar a pintura, a escultura, as artes aplicadas.

Era um simples funcionário do MoMA, antes de se transformar em um fenômeno da arte conteporânea: eram os anos oitenta e Koons instalou uma espécie de janela luminosa, tudo à sua maneira, na 14th Street. Tudo começou assim. Foi a era do hedonismo prêt-a-porter, e a arte se adapta bem a isso.

A exposição florentina exigiu mais de dois anos de trabalho incansável.

Jeff Koons, Lobster 2007-2012 – Private collection. © Jeff Koons

Hoje, aos 66 anos de idade, com oito filhos, três netos e duas esposas (a primeira, de 91 a 94, era Ilona Staller, a Cicciolina: lembra?) parece ter entendido que não há verdadeiro erro sem objeto reflexivo. Melhor dizendo: se suas obras se tornaram um ícone pop irreverente, irônico, surrealista, se te fazem sorrir ou franzir a testa, é porque realmente possuem uma substância por trás do brilho.

Jeff Koons – Hulk (Tubas) 2004-2018 – Collection of the artist. © Jeff Koons

Assim é preciso – antes de cruzar a soleira do Palazzo Strozzi – está ciente de que – apesar da aparência, apesar dos deslumbramentos, apesar das cores fluorescentes – a exposição trata de temas sérios. A ideia de Arturo Galansino, diretor da Fundação Palazzo Strozzi, que fez a curadoria da exposição com Joachim Pissarro, é esvaziar a “Koons-mania” e ver que sua arte nos ajuda a refletir (no sentido literal e não só) .

Shine

São expostas mais de trinta obras espelhadas e coloridas que brilham dentro da arquitetura severa do Palazzo Strozzi. As paredes brancas, as colunas, os capitéis de pedra, as janelas de vidro e chumbo, os arcos redondos, os portões com decorações zoomórficas, a lareira monumental, os pisos de terracota… Tudo se reflete nas obras de Koons. Um diálogo essencial entre as formas platônicas de Koons e a regra de ouro de um contêiner arquitetonicamente perfeito do Renascimento Florentino. Atravessando as salas do Palazzo Strozzi, os temas tratados nas obras deixam o visitante surpreso – aliás é uma grata surpresa!

Seated Ballerina 2010-2015 e no fundo Sacred Heart (Magenta/Gold) 1994-2007

«Shine», aquele brilho alegre, frívolo, lúdico. Desde 1996, o artista escolheu o aço inoxidável como o material para manipulá-lo e polir como quiser: suas obras não são apenas objetos de decoração para as casas de colecionadores ricos. Para Koons, o significado do termo brilho refere-se ao espelho interno e ao poder de percepção de cada pessoa. A ideia é que cada pessoa veja o seu próprio reflexo dentro da obra e isso significa participar ativamente da sua arte. Isso explica por que suas obras, tão terrivelmente instagramáveis. E por favor, ao se encontrar em frente a uma obra de Koons, medite pelo menos um pouco, talvez com o celular desligado.

Balloon Venus Dolni Vestonice (Violet) 2013-2017, Balloon Venus Lespugue (Red) 2013-2019. Na parede: Jeff Koons
Olive Oyl – 2003

Os nossos rostos se refletem nas obras, nós mesmos podemos apreender uma parte de nós e do ambiente que nos rodeia. Ao fazer isso, o mais rico e mais conceituado dos artistas vivos atinge uma “democratização da arte” completamente nova. Ele mesmo diz: “Sempre tive consciência do poder discriminatório da arte e sempre me opus a ela”.

Jeff Koons Gazing Ball (Diana) 2013

Nesta exposição promovida e organizada pela Fundação Palazzo Strozzi oferece a oportunidade de conhecer 40 anos da carreira do artista com as suas melhores peças desde meados dos anos setenta até aos dias de hoje.


Cristiane de Oliveira

Brasileira do Rio de Janeiro, vive em Florença ha 17 anos. Apaixonada por arte, historia e bons vinhos. Guia de turismo e sommelier na Toscana.

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