Se hoje podemos ir a Florença e visitar uma das mais antigas e importantes coleções de arte do mundo, devemos a uma mulher, Anna Maria Luisa, a última Medici.
No dia 18 de fevereiro de 1743, um sábado de carnaval, morre Anna Maria Luisa de’ Medici. Desta forma, hoje vamos conhecer e homenagear essa grande mulher, que ligou para sempre o patrimônio deixado pela sua família á cidade Florença.
Anna Maria Luisa, a última Medici
Anna Maria Luísa de ‘Medici (Florença, 11 de agosto de 1667 – 18 de fevereiro de 1743) foi a última descendente da casa Medici. Segunda filha do grão-duque Cosimo III e de Marguerite Luise d’Orléans, parente do Rei Sol. Foi batizada pelo tio-avô, o Cardeal Leopoldo de’ Medici.
O casamento dos pais de Anna Maria Luisa foi um dos piores de toda a história da dinastia Medici. Tão infeliz ao ponto da mãe regressar (ou seria melhor usar o verbo fugir?) à França em 1675 depois de ter obtido a separação e ter consentido em se retirar no mosteiro de Saint Pierre em Montmare. Anna Maria Luisa nunca mais encontrou sua mãe, mas apesar da ausência materna, nunca lhe faltou o amor paterno.
O casamento de Cosimo III e Marguerite Luise, gerou três filhos: o filho mais velho, Ferdinando (1663-1713), morreu de sífilis sem deixar herdeiros. O irmão mais novo Gian Gastone (1671-1737), foi o último grão-duque Medici, e também não deixou herdeiros.
Anna Maria Luisa, adorada por seu pai, juntamente com seus dois irmãos, cresceu e foi criada por sua avó paterna, a rígida e intolerante Vittoria della Rovere.
Em 1691, Anna Maria Luisa tornou-se a segunda esposa de Johann Carl Wilhelm I, príncipe Eeitor do Palatinado. Johann Carl Wilhelm I era viúvo desde de 1689 e a sua primeira esposa era Maria Anna Josepha Hasburgo, filha do Imperador Fernando III. Foi um casamento importante para os Medici, devido a forte ligação entre o Principe Eleitor e a família Hasburgo.
As crônicas contemporâneas e os documentos do arquivo de Estado nos contam em detalhes sobre os eventos relacionados e as diversas negociações do acordo matrimonial. O noivado, ou seja, a entrega do anel ocorreu em uma cerimônia feita por procuração, como era costume, em 29 de abril 1691 na catedral florentina com o Grande Príncipe Ferdinando ao lado da jovem irmã em representação do Eleitor Palatino. As festividades prosseguiram por muitos dias.
A partida de Anna Maria Luisa para Düsseldorf (Alemanha), capital do Palatinado, ocorreu em 6 de maio de 1691. Durante a viagem para a sua nova residência, Anna Maria Luisa foi acompanhada pelas suas damas de companhias e dos gentis homens enviados pelo seu futuro marido, o Eleitor Paladino.
O primeiro encontro com o Eleitor Palatino foi em Innsbruck e o casamento foi celebrado na Capela da Rainha da Polonia Eleonora Maria, irmã do Imperador Leopoldo I.
Nesta ocasião Johann Wilhelm e Anna Maria Luisa cantaram e
tocaram juntos, um prelúdio para um relacionamento longo e feliz, em que a música desempenhou um papel fundamental, como a arte.
Em 19 de julho de 1691, Anna Maria Luisa entrou triunfante como a nova Eleitora Palatina de Düsseldorf, onde viveria feliz até 1716. O casamento com o Eleitor Palatino foi de fato baseado em sentimentos reais e profundo afeto. Diversas afinidades uniam o casal, como o amor à arte e a música.
Os graves problemas de saúde do Eleitor Palatino, se agravaram a partir do ano de 1713. Com apenas 58 anos, o marido de Anna Maria Luisa, morre no dia 08 de junho de 1716. Com a ausência de herdeiros, a vida de Anna Maria na corte de Düsseldorf foi ficando cada vez mais compliacada. Assim, o ano que se seguiu após a morte do marido, foi o mais difícil da vida dela.
Assim, no dia 10 de setembro de 1717, Anna Maria Luisa retorna a sua cidade natal, Florença. O acordo matrimonial assinado em 1691, previa que em caso de viuvez, Anna Maria tivesse plena liberdade e disponibilidade das suas jóias e móveis que pertenciam aos seus aposentos e gabinetes.
Foi em base a esse acordo que Anna Maria Luisa pôde levar consigo para Florença joias, objetos de porcelana e de prata, móveis preciosos, quadros de grandes valores. Foram esses objetos que decoraram seus aposentos no Palazzo Pitti em Florença.
A expedição dos objetos preciosos iniciaram-se em agosto de 1717, ou seja, antes da partida de Anna Maria Luisa para Florença. Foram utilizados os correios fiorentinos e o transporte marítimo, partindo dos portos holandeses em direção a Livorno, na Toscana.
A viagem de retorno a Florença de Anna Maria foi concluida em outubro de 1717. Ela foi recebida com grande festa dos floretinos e principalmente pelo seu pai, o grão-duque Cosimo III. Anna Maria foi sempre a filha predileta do grão-duque.
Cosimo III, deu para sua filha os aposentos no Palazzo Pitti que desde do século XVI eram designados para quem tivesse o título de Grão-duquesa. Os aposentos eram compostos por sete salas, no andar nobre do Palazzo Pitti. Grande parte dessas salas hoje fazem parte do percurso da Galleria Palatina, chamada de Quartieri del Volterrano.
O Grão-Ducado da Toscana, no século XVIII, estava passando por um período de declínio político econômico devido às péssimas políticas de Cosimo III, pai de Anna Maria Luisa.
A linha de sucessão estava perto da extinção e Cosimo III passou os últimos anos de sua vida tentando fazer com que os outros Estados Europeus reconhecessem sua filha Ana Maria Luisa como herdeira legítima do Grão-Ducado da Toscana.
Com a morte de Cosimo, seu filho Gian Gastone de ‘Medici tornou-se grão-duque. Gian Gastone, homossexual declarado e completamente desinteressado em assuntos públicos, teve um casamento infeliz que não deixou herdeiros.
As potências europeias da época, não reconheceram a legitimidade de Anna Maria Luisa, e assim se interessaram em controlar o Grão-Ducado da Toscana.
O “Pacto Familiar”
Com a morte de Gian Gastone em 1737, o trono toscano passou para a família franco-austríaca dos Habsburgo-Lorena. Após a morte de seu irmão Gian Gastone Anna Maria Luisa permaneceu como a última descendente da dinastia Médici.
Foi precisamente neste o momento que ela realizou o gesto que fez a fortuna de Florença o chamado “Pacto Familiar”. O pacto era uma espécie de testamento que estabelecia que os novos governantes, Habsburgo-Lorenas, não podiam retirar da capital do Grão-Ducado da Toscana nenhum objeto, como obras de arte, quadros, esculturas, joias, livros e outras preciosidades que faziam parte do patrimônio dos Medici.
Anna Maria Luisa justificou o pacto, dizendo que a permanência do patrimônio deixado pelos Medici era para a “ornamentaçâo do Estado, para utilidade pública e para atrair a curiosidade dos visitantes estrangeiros. “
Com este pacto, Anna Maria Luisa assegurou que Florença conservasse a maioria das obras de arte que faziam parte do patrimônio dos Medici. Desta forma, Florença não teve o destino de outras cidades que, uma vez que a família reinante era extinta ou afastada, a cidade era esvaziada de seus tesouros artísticos e culturais.
Uma vontade expressa em perfeita síntese jurídica, tão clara que ainda hoje é um instrumento jurídico utilizado para obter o retorno de obras de arte retiradas ilegalmente de Florença.
Uma vez garantida a salvação do patrimônio dos Medici, Anna Maria Luisa continuou a viver em Florença, onde, pelo resto de sua vida, catalogou e inventariou as coleções dos Medici. Ela morreu em seus apartamentos no Palazzo Pitti no dia 18 de fevereiro de 1743.
Com a sua morte se extingue a dinastia Medici. Ela foi enterrada na cripta das Cappelas Medici, na Basílica de São Lorenzo.
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