Hoje vamos conhecer um parte muito triste da história moderna de Florença: a Banda Carità.

Mario Carità é o nome de um dos mais ferozes torturadores e assassinos da Itália. Fascista de primeira categoria, participou de algumas torturas já em 1920. Durante o “Ventennio” fez parte da OVRA, a polícia secreta fascista.

Após o armistício fundou o Reparto Servizi Speciale, que ficou tristemente conhecido como “Banda Carità”, o qual participavam ex-presidiários reabilitados da Reppublica Sociale Italiana (RSI: nome assumido pelo governo fascista liderado por Mussolini instaurado em 23.09.1943 na parte do território italiano não ocupado pelos Aliados – conhecido também como Reppublica di Salò).

Villa Triste, Largo Fanciullacci
Villa Triste, Largo Fanciullacci

Em Florença, a primeira sede da Banda Carità era na via Benedetto Varchi, requisitada de uma família judia. Após algumas mudanças de endereço, a Banda Carità desembarcou no número 67 do atual Largo Fanciullacci, um prédio que ficou conhecido como “Villa Triste”.

Fizeram parte da Banda também dois padres: Dom Gregorio Boccolini e Alfredo Epaminonda Troya. Este último, para abafar os gritos dos prisioneiros, tocava piano e cantava músicas napolitanas quando iniciavam as torturas. Ele deixou a Banda, não por motivos de arrependimento, mas para seguir outro torturador fascista chamado Pietro Koch em Roma e Milão.

Vários, mas sempre cruéis, eram os métodos para conseguir a confissão dos prisioneiros: desde da tortura psicológica que impedia as pessoas de dormirem até o espancamento. Se o prisioneiro resistisse e não confessava, se passava as descargas elétricas nos genitais e a eliminação das unhas com pinças.

Entre as vítimas da Banda Carità estava o partigiano Bruno Fanciullacci que para evitar mais torturas e não revelar os nomes dos seus companheiros de luta, se jogou com as mãos amarradas nas costas, de uma janela localizada há 20 metros de altura. Ele morreu três dias depois, com trauma craniano além de um tiro de pistola que havia recebido na parte lateral do corpo. Ele morreu sem revelar nenhum dos planos da Resistência. Em 2003, o largo em frente a Villa Triste recebeu o seu nome. Anna Maria Enriques Agnoletti também morreu em Villa Triste após uma semana de tortura.

Com o avanço dos Aliados na Toscana, a Banda Carità se transferiu para Padova, mas não antes de haver roubado o Banco da Itália (Banca d’Italia) e de ter saqueado a Sinagoga de Florença. No Veneto, a Banda continuou a sua atividade criminal até 27 de abril de 1945 e assim os torturadores escaparam em direção ao Brennero.

Mario Carità e dois membros da Banda. Foto Wikipédia.
Mario Carità e dois membros da Banda. Foto Wikipédia.

Em maio do mesmo ano, Mario Carità foi descoberto pela polícia americana em uma pensão em Castelrotto, distante 30km de Bolzano. Antes de morrer debaixo uma explosão de metralhadoras. Durante o conflito armado a sua companheira foi ferida, e depois de ser medicada foi levada para o campo de concentração americano de Coltrano.

Em 27 de abril de 1945, 19 componentes da Banda Carità foram julgados em Padova: 04 condenações à morte, mas somente Antonio Coradeschi cumpriu a pena. As outras condenações foram alteradas e em 1964, os crimes foram declarados extintos. Alguns suspeitos e condenados da Banda eram livres desde de 1955.

Outros elementos da Banda Carità foram processados em 23 de abril de 1951. As 20 prisões perpétuas foram transformadas em 30 anos de reclusão. Padre Troya, aquele que cantava e tocava piano, inicialmente se refugiou na Argentina. Foi processado e condenado a 28 anos, mas cumpriu somente sete de reclusão. Em 1953 era um homem livre.


Cristiane de Oliveira

Brasileira do Rio de Janeiro, vive em Florença ha 17 anos. Apaixonada por arte, historia e bons vinhos. Guia de turismo e sommelier na Toscana.

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