O retrato feminino, conhecido pelo nome encantador de A Bela de Ticiano Vecellio, (em italiano La Bella) é uma das mais pinturas mais famosas da maturidade do artista veneto. Ticiano era considerado um supremo retratista, além de fundador da pintura veneziana. A Bela de Ticiano é um grande ícone da beleza renascentista, da beleza feminina veneziana que influenciou diversos artistas.
A obra, conservada no Palazzo Pitti em Florença, foi restaurada por Patrizia Riitano do Opificio delle Pietre Dure (2010-2011). A restauração devolveu a obra o seu esplendor original, eliminando algumas repinturas e liberando a cor do mestre Ticiano das tintas afixadas ao longo do tempo.
Descrição da obra
A Bela de Ticiano está de pé contra um fundo escuro e monocromático. Portanto, o espaço ao seu redor não é representado, mas intuído.
Uma jovem mulher colocada de três quartos é retratada com um rico e impressionante vestido confeccionado com tecido damasco azul com finos bordados dourados. O damasco é um tecido de grande qualidade, geralmente de seda e recebe o nome da cidade da qual é originário.
As mangas do vestido são feitas de veludo avermelhado, com cortes dos quais emergem detalhes da camisa branca que está por baixo do vestido.
Na mão direita, com elegância descontraída, a Bela de Ticiano carrega um pedaço de pele de zibelina, ou seja uma espécie de marta, originária da Asia e da Europa Setentrional. A zibelina é um dos animais mais preciosos produtores de pele. A nossa protagonista é consciente de sua nobreza. O vestido também destaca a riqueza da jovem.
Com muito encanto, o rosto da Bela atrai a atenção do espectador. A Bela é representada com precisos padrões da beleza renascentistas como por exemplo testa saliente, cílios finos e sedosos, olhar vivo e penetrante dos olhos negros, as bochechas brancas manchadas de vermelho, os seios fartos de cor lunar, e os cabelos cor de mel penteados em um emaranhado de tranças.
Um cordão de ouro com diversos pingentes que eram utilizados como recipientes de perfumes marca a cintura da nobre dama. As jóias são simples, mas muito preciosas. No pescoço, Bela carrega uma longa corrente de ouro que sinaliza os seios fartos, enquanto os brincos são decorados com uma pérola. O penteado elegante e sóbrio, permite definir o caráter nobre da protagonista.
A Bela reflete completamente o que é a moda da segunda metade dos anos trinta do século XVI. No entanto, existem elementos como a trança que desprende do penteado, no ombro direito, poderia representar um meio consciente e desejado de sedução.
Quem foi a Bela de Ticiano?
A busca pela identidade da Bela de Ticiano sempre foi umal questão de grande relevo para os historiadores. Alguns reconheciam a modelo na esposa de quem encomendou a obra, outros na modelo preferida do pintor ou ainda em uma cortesã desconhecida.
Temos conhecimento de uma carta datada de 1535 do Duque de Urbino, Francesco Maria della Rovere, que comprou a obra em Veneza por volta de 1536-38. Escrevendo para Ticiano para solicitar o envio, o Duque cita a pintura nomeando-a como “o retrato da mulher do vestido azul”, sem dar qualquer identidade específica da senhora.
Dessa forma, alguns historiadores acreditam que a modelo não poderia ser alguém conhecido do duque, e principalmente a sua esposa. Portanto, fortalece-se o pensamento de que a imagem deve ser entendida como uma imagem idealizada e que incorpora o ideal da beleza feminina, tema muito querido às cortes da Renascença.
No rosto da Bela, os críticos encontraram algumas semelhanças com outras pinturas de Ticiano. É a Vênus de Urbino, La donna con pelliccia e o Ritratto di fanciulla con cappello piumato.
História da obra
O Grão-Duque de Urbino e Capitão Geral da Sereníssima Veneza, Francesco Maria I Della Rovere comprou a obra por volta de 1536-38 depois de tê-la visto no ateliê de Ticiano durante as sessões para a realização de seu retrato e de sua esposa Eleonora Gonzaga, na primavera de 1536.
Os retratos dos duques chegaram a Pesaro em abril de 1538 e é provável que com eles também tenha chegado La Bella. Em 1624 La Bella foi inventariado no Palazzo di Casteldurante entre as pinturas ducais.
A chegada da obra em Florença
A pintura foi transferida para Florença em 1631, juntamente com toda a herança de Vittoria della Rovere, última herdeira dos della Rovere que casou com Ferdinando II dos Medici. A Bela passou em 1694 como herança ao cardeal Francesco Maria, filho de Vittoria della Rovere e, após a sua morte em 1711, ao grão-duque Cosimo III. A obra foi incluída na Galleria Palatina desde o alvorecer de sua formação no final do século XVIII.
Posteriormente, A Bela não passou despercebida nem mesmo a Napoleão que, junto com outras 62 obras-primas do Palácio Pitti, a levou para Paris. Durante a estadia francesa 1804. a obra passou por um restauro, sofreu algumas integrações, além de ser coberta com uma espessa camada de verniz.
Em Florença, um guia do final de 1700 citou a obra com o nome com o qual ainda é atribuída ainda hoje. A mulher retratada na pintura era a “favorita do pintor”, ou seja a sua” Bela “, que na época era sinônimo de mulher amada.
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