Uma restauração e duas surpresas: o rosto de Michelangelo escondido sob o disfarce de Nicodemos e o de Rosso Fiorentino sob o de José de Arimatéia. Aconteceu durante a restauração do retábulo de Giorgio Vasari para o altar Buonarroti, na Basílica de Santa Croce, em Florença.
In the Name of Michelangelo
A restauração do retábulo de Giorgio Vasari foi conduzida pela Ópera de Santa Croce através do projeto de angariação de fundos In the Name of Michelangelo. A intervenção, agora em fase de conclusão, será apresentada à cidade no sábado, 24 de novembro, às 16h.
A campanha de arrecadação de fundos foi ativada em setembro de 2017. Em pouquíssimo tempo, os recursos necessários para a restauração foram alcançados. Ao todo, cerca de cento e vinte mil euros foram arrecadados para serem investidos na limpeza e no diagnóstico da sepultura e na restauração do retábulo.
Doadores de todo o mundo contribuiram para a restauração do retábulo e da tumba de Michelangelo, ambos obras de Giorgio Vasari. No total foram 127 pessoas e a maior parte dos doares foram os americanos.
Na lista de doadores, cujos nomes estão listados um a um no site da Ópera de Santa Croce, os países representados são treze. São eles: Itália, Estados Unidos, Inglaterra, Canadá, Filipinas, Áustria, Alemanha, Finlândia, Espanha, Noruega, República Tcheca, Austrália e Peru.
O túmulo de Michelangelo
O túmulo de Michelangelo é um monumento impressionante, localizado na Basílica de Santa Croce em Florença, que celebra todas as principais artes do artista.
É uma obra de Giorgio Vasari, que foi encomendada pelo sobrinho de Michelangelo, Lionardo Buonarroti e pelo duque Cosimo I de ‘Medici após morte do artista em 1564.
Os trabalhos foram concluídos em 1578 e o resultado final é um conjunto de afrescos e esculturas de mármore representando Michelangelo no busto central e as três artes em que ele se destacou (escultura, arquitetura e pintura). Faltou a representação da poesia, né?!
Além do artista, 66 membros da família Buonarroti estão enterrados lá.
O retábulo de Vasari
Giorgio Vasari realizou em 1572 um retábulo que representa O Caminho do Calvario e o encontro com Veronica. A obra foi encomendada pelo duque Cosimo I de’ Medici. Durante a restauração foram tratados principalmente os danos produzidos na parte inferior da obra pela enchente de 1966, além da limpeza que devolveu a obra mais luminosidade.
Com a nova restauração foram descobertos detalhes inesperados como o rosto de Michelangelo na figura de Nicodemos e de Rosso Fiorentino como José de Arimatéia.
O rosto de Michelangelo, voltado para o túmulo, é reconhecível pelo cabelo encaracolado e pelo perfil característico do nariz. Ao lado do retábulo, no monumento fúnebre de Michelangelo, ergue-se o seu busto derivado da obra de Daniele da Volterra que realizou com base na máscara mortuária do artista. Os dois retratos, realizados no mesmo período, são um claro traço de união entre o altar e o monumento.
A homenagem a Michelangelo também é realizada através do uso de citações de suas obras, como por exemplo, em uma das mulheres que é claramente inspirada na Sibila Líbica da Capela Sistina.
No retábulo, de acordo com Cornelison, Rosso Fiorentino também é imortalizado com um gorro vermelho na forma de José de Arimatéia. Vasari frequentava o atelier do artista, dizia que Rosso era um dos pintores mais queridos. Na Vida dos Artistas, Vasari se referiu a Rosso escrevendo – “ele merecia e merece ser admirado como excelente”.
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