Guidobaldo II della Rovere, duque de Urbino foi retratado por Agnolo Bronzino quando tinha 18 anos. Guidobaldo, assim como foi seu pai Francesco Maria della Rovere, foi general e duque de Urbino, a cidade natal do grande pintor renascentista Rafael Sanzio. A obra é datada no ano de 1532 (cerca) e faz parte do acervo da Galleria Palatina em Florença.
Há uma inscrição grega no capacete que diz “Certamente será como eu decidi”, o que sublinha ainda mais a determinação do duque Guidobaldo della Rovere em estar totalmente no controle. Provavelmente a escrita era uma mensagem para o pai de Guidobaldo, Francesco I Maria della Rovere. Na época que o quadro foi feito, Guidobaldo se apaixonou pela belissíma filha de Giordano Orsini, mas seu pai já havia prometido o seu filho para um matrimônio político com Giulia Varano, filha dos senhores de Camerino. A herdeira de Camerino era 9 anos mais nova e ainda não atingira a puberdade.
Infelizmente, Guidobaldo, como Romeu, o da Julieta, se apaixonou por uma mulher de uma família politicamente oposta à sua. Assim, a frase “Certamente será como eu decidi” reflete as atitudes do filho seguro e rebelde, apaixonadamente envolvido num caso de amor adolescente, respondendo ao pai que lhe diz para renunciar a essa paixão por causa da família. Ele está afirmando seu papel e direito de decidir sobre seus próprios sentimentos.
Em 1532, a mãe de Guidobaldo, a duquesa Eleaonora, deu à luz a um segundo filho, Júlio. Isso significava que Francesco Maria della Rovere, teria um outro herdeiro, além de Guidobaldo. Eventualmente, o romance entre Guidobaldo e Clarice Orsini desapareceu igual fumaça. Em outubro de 1534, Guidobaldo casou-se com Giulia Varano, de 11 anos de idade, aceitando os desejos do pai e à ambição dinástica, aumentando assim o domínio territorial dos Della Rovere. Em 1547 morre Giulia Varano e o nosso Guidobaldo se esposa novamente com Vittoria Farnese.
Nesta época, a situação política na Itália era instável e havia alguns indivíduos que estavam prontos para contestar o jovem herdeiro, Guidobaldo II, reivindicando o ducado. Este retrato poderia ser usado como propaganda política para sublinhar que ele tinha o poder e a capacidade de governar.
Guidobaldo II, ao contrário de seu homônimo e anterior duque de Urbino (Guidobaldo I), era um homem saudável e vigoroso que poderia produzir um herdeiro. Guidobaldo I foi lembrado como um homem doente e incapaz de produzir um herdeiro.
Guidobaldo I (filho de Federico de Montefeltro) foi o último da família Montefeltro. Assim ele adotou como seu herdeiro Francesco Maria della Rovere, filho de sua irmã e sobrinho do papa Júlio II. O filho de Francesco foi Guidobaldo II, o protagonista do nosso quadro.
O cão e o capacete são sugestivos da nobreza e do poder militar da família. O cão é símbolo da vida de corte e o capacete é um lembrete do poder militar da família.
Na obra, a pedido de Guidobaldo, Angelo Bronzino o representou acompanhado do seu fiel cão (que parece vivo) e com uma preciosa armadura, que foi trazida especialmente da Lombardia.
Foi exigido que Bronzino representasse com muita sutileza a nobreza e valor da forma humana, e muita habilidade na representação detalhada dos tecidos e metais. Nos anos seguintes, Bronzino será o maior pintor da corte de Cosimo I dos Medici em Florença.
Quando olhamos para este retrato, a primeira coisa que chama a atenção é o rosto do duque. Então, nossa atenção se move para baixo em direção à cabeça muito maior e mais branca e totalmente iluminada do cão. Neste ponto, o espectador não pode ignorar o detalhe da braghetta vermelha saliente da calça. Isso mesmo! Era assim as roupas dos nobres, e não era para ser visto como algo erótico. A braghetta era uma espécie de saco de pênis, vistoso e acolchoado por razões práticas, mas acima de tudo para mostrar e a masculinidade! Era importante salientar a virilidade do duque, que deveria gerar muitos herdeiros.
Segundo alguns historiadores, a braghetta, ou braghettone, como é chamado em Florença, nasceu com a função de medicar o órgão sexual masculino contaminado pela sífilis. Colocavam-se principalmente mercúrio na parte interna da braghetta, que era toda acolchoada.
De 1510 a 1580, as braghette tornaram-se extremamente elegantes e mais elaboradas. Elas também eram freqüentemente vistas como talismãs e as mulheres as tocavam porque acreditavam que era um bom talismã para a fertilidade. Se fosse hoje, seria um verdadeiro escandalo, né?!
A braghetta também poderia ser usada para armazenar documentos, moedas e até mesmo frutas. Veja na foto acima (Retrato de un Cavaleiro) um outro exemplo.
Durante uma viagem entre Pesaro e Ferrara, Guidobaldo adoece gravemente. Morre em 1574 e deixa quatro filhos: Virginia do primeiro casamento e três filhos do segundo casamento.
Guidobaldo II della Rovere foi um grande mecenas do Renascimento. Foi ele o comprador da famosa Vênus de Urbino, obra de Tiziano que atualmente faz parte do acervo da Galleria degli Uffizi em Florença.
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