A criação Loba Capitolina que originalmente provavelmente não tinha nada a ver com a lenda das origens de Roma, pode ser datada de oficinas etruscas ou magno-gregas do século V a.C.
Detalhes da Loba Capitolina. Os gêmeos, que a acompanham, foram adicionados durante o Renascimento e são atribuídos ao renomado artista florentino Antonio Pollaiolo.

Quando você visita o centro histórico de Siena, uma pergunta intrigante pode surgir: por que a Loba Romana está representada nesta cidade toscana? Este símbolo icônico, que amamenta os gêmeos Rômulo e Remo, é, sem dúvida, um dos mais importantes em toda a Roma antiga. Sua representação remonta ao século V a.C., especialmente se considerarmos a famosa Loba Capitolina, que pode ser admirada nos Museus Capitolinos em Roma.

A Loba e Suas Representações em Siena

La coluna com a Loba de Siena na Piazza di Postierla, Siena
A Loba senese em uma coluna no Banchi di Sopra em frente ao Palazzo Tolomei

Ao percorrer as ruas de Siena, você encontrará várias colunas adornadas com a imagem da loba que alimenta os gêmeos. A presença desse símbolo tipicamente romano na cidade é explicada por uma lenda que remonta à Idade Média e que, durante o Renascimento, ganhou uma “elegante veste literária”. O mito da fundação de Roma, ligado aos gêmeos Rômulo e Remo, é amplamente conhecido, assim como a trágica história em que Remo é assassinado por seu irmão.

É a partir desse mito que surge a lenda das origens romanas de Siena. Segundo a narrativa, a cidade foi fundada pelos filhos de Remo, Aschio e Senio, que, para escapar da fúria de Romulo, fugiram de Roma levando consigo a Loba Capitolina, que teriam roubado do templo de Apolo. Ao chegarem às colinas toscanas, Senio fundou Siena, enquanto Aschio estabeleceu o burgo de Asciano. Essa conexão com a fundação de Roma conferia a Siena uma legitimidade histórica, posicionando-a como herdeira de Roma.

A Busca por Legitimidade

Mosaico com a Loba Senese no piso do Duomo de Siena

A associação de Siena com as origens romanas respondia a uma necessidade de legitimação, revelando a busca da cidade por raízes nobres e um status superior em relação a outras cidades que não compartilhavam esse legado. Essa conexão com Roma não era meramente simbólica; mesmo após a queda do Império, Roma continuava a ser vista como a capital do mundo durante a Idade Média. Visitantes da Urbe podiam ainda admirar as grandiosas ruínas de uma civilização gloriosa. Assim, a Loba Capitolina, símbolo do passado glorioso de Roma, tornou-se também um emblema de Siena, que aspirava a ser uma nova Roma.

A História da Representação da Loba em Siena

A Loba Senese na Piazza Duomo – Siena

Embora essa seja a versão oficial da história, poucos conhecem o momento exato em que a Loba começou a ser representada em Siena. Essa representação está ligada a eventos específicos da história da cidade, e a quantidade de imagens da loba em Siena é impressionante. Desde o período medieval até os dias atuais, suas reproduções são tantas que seria impossível listar todas aqui. Vamos destacar algumas das mais significativas.

Entre as primeiras representações da Loba em Siena, encontramos duas esculturas que estão no Museu da Ópera do Duomo, atribuídas à oficina de Giovanni Pisano e datadas do final do século XIII. As que estão atualmente no sagrato são cópias. Outra escultura importante, considerada a mais bela que sobreviveu até hoje, é a de bronze dourado criada por Giovanni di Turino por volta de 1430, que se encontra no Palazzo Pubblico.

Além disso, o mosaico pavimentado do Duomo, datado de 1373, embora amplamente restaurado no século XIX, também apresenta a figura da loba. Por fim, não podemos esquecer das três colunas com a Loba, localizadas em cada Terço de Siena: uma em San Martino, perto da antiga porta de San Maurizio; outra em Camollia, situada na Piazza Tolomei; e a terceira no Terço de Città, localizada na Piazza della Postierla ou Quattro Cantoni.

Conclusão

A Loba Romana não é apenas um símbolo da antiga Roma, mas também um elo profundo com a identidade de Siena. Sua presença nas ruas da cidade nos lembra das ricas tradições e da história que moldaram este lugar especial. Ao explorar Siena, você não apenas aprecia a beleza de suas ruas e monumentos, mas também descobre as histórias que conectam o passado ao presente, revelando a alma de uma cidade que se orgulha de suas origens.


Cristiane de Oliveira

Brasileira do Rio de Janeiro, vive em Florença ha 17 anos. Apaixonada por arte, historia e bons vinhos. Guia de turismo e sommelier na Toscana.

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