A base da influência que a família Medici exercitou na história, em boa parte é ligada ao poder econômico, construido principalmente por Giovanni di Bicci (1360-1429) com a fundação do Banco Medici. Giovanni maturou a sua experiência de homem de negócios em Roma, como diretor e sócio minoritário da filial de um banco de propriedade do tio Vieri de’Medici,

Giovanni di Bici, fundador do BBanco Medici.

Em 1397, com 5.000 florins (fiorini) de capital, Giovanni funda em Florença, com uma filial em Roma, o Banco Medici. Os outros sócios do Banco Medici eram Benedetto di Lippaccio e Gentile di Baldassarre Boni.

Benedetto di Lippaccio, membro da famosa família Bardi, já tinha trabalhado com Giovanni em Roma, participou com 2.000 florins de quotas de capital. Gentile participou da sociedade com 2.500 florins. O total do capital inicial do Banco Medici era de 10.000 florins – Giovanni participou com 5.500 florins.

As coisas não começaram bem para o Banco Medici. E assim, poucos meses após a abertura, Gentile di Baldassarre Boni se retirou da sociedade, levando consigo a sua quota de capital. Foi um erro. Com o seguir do tempo, o Banco Medici começou a florir e enquanto Giovanni di Bicci e Benedetto di Lippaccio começaram a enriquecer, Gentile Boni, morreu em uma prisão por causa de débitos que não foram honrados. Em 1420, Giovanni di Bicci se aposentou e cedeu a gestão do banco ao filho, Cosimo il Vecchio.

Cosimo, il Vecchio

A sede do Banco dos Medici em Florença era na via Porta Rossa, próxima a igreja Orsanmichele, onde hoje existe o Mercato Nuovo, onde tem o famoso Javali. Entorno ao Mercato Nuovo, tinham cerca de 70 bancos.

Naquela época, um Banco, era literalmente uma espécie de balcão, uma mesa, alguma coisa onde era possível escrever, fazer contas e que dividisse duas pessoas em uma transação. Em cima do “balcão”, coberto por um pano verde, tinha o grande livro onde eram contabilizadas as operações. A Arte do Cambio, ou seja, a guilda dos banqueiros, estabelecia que todas as as transações deveriam ser registradas. Os banqueiros sempre tinham os dedos sujos de tinta.

As transações deveriam ser tratadas com o cliente em pessoa e registradas na sua presença, em números romanos, ordenadas em colunas, assim era mais difícil serem alteradas. Após serem registradas, as operações eram lidas em voz alta. Se um banqueiro, inscrito na Arte do Cambio for pego em flagrante destruindo ou falsificando os registros, era expulso da corporação sem direito a recursos e assim não poderia mais exercer a profissão.

Nem todos os bancos pertenciam a mesma categoria. Um pedaço de tecido vermelho no alto da porta, indicava uma agência de penhor. O Banco dos Medici era considerado grande, internacional. E como funcionava?

Uma pessoa se apresentava no balcão verde da sede de Florença, por exemplo. Com todas as probabilidades era um mercante e era digno de crédito. Ele necessita de 1.000 florins. Qual o motivo de emprestar dinheiro, se não é possível cobrar juros, pois a prática era proibida pela igreja? Não é um amigo…não é um parente! O ganho está exatamente na operação de cambio. O mercante pegará o empréstimo com o Banco Medici em florins e restituirá, por exemplo o débito em esterlinas, em Londres. Neste momento é preenchido uma nota cambial onde diz que o comerciante receberá 1.000 florins e que pagará no dia tal a fulano de tal, 40 esterlinas, para cada florin, ou seja, 40.000 esterlinas. O tempo de pagamento do débito era ligado ao tempo de viagem de uma sede para outra. Para Londres, por exemplo, eram necessários 90 dias de viagem.

O Banco Medici tinha uma estrutura semelhante a um “Grupo de empresas” moderno. Na verdade, o grupo era composto por várias empresas, cada uma juridicamente independente, mas todas sob o controle efetivo da família dominante. Na época da expansão e esplendor máximo do Banco, alcançados sob a gestão de Cosimo de ‘Medici (1389 – 1464), filho do fundador, o “Grupo” incluía o “Banco” de Florença, as filiais fora da cidade, (na Itália e no exterior) e três “oficinas” que operava dentro das muralhas da cidade, duas das quais dedicadas à produção de tecidos de lã e uma especializada em seda. Os diretores das filiais eram, na regra geral, membros jovens que, no entanto, não tinham os mesmos direitos que os membros “seniores” da família Medici.

A primeira expansão do Banco foi facilitada, sobretudo, por estreitas relações com o papado; posteriormente, os Medici também se tornaram banqueiros dos reis da Inglaterra, dos duques da Borgonha, dos reis da França e de muitos outros príncipes e soberanos italianos. Os compromissos políticos, que absorveram a família Medici, não permitiram uma gestão direta e completa dos negócios, exceto através da colaboração de administradores de confiança, entre os quais se destacou a figura do chamado “ministro”, o principal gestor que tinha a tarefa de supervisionar e coordenar o trabalho dos “diretores” das filiais, revisar as demonstrações financeiras enviadas anualmente à sede e chamar a atenção da família Medici para os negócios mais importantes.

A esquerda, Lorenzo Il Magnifico, a direita, Francesco Sassetti – Domenico Ghirlandaio, detalhe Capela Sassetti, Santa Trinità, Florença

Um dos “diretores geral” mais influentes da história do Banco Medici foi Francesco Sassetti, ministro de 1470 a 1490, sob o governo de Lorenzo de ‘Medici (o Magnífico, 1449 – 1492). Nesse período, alguns fatores contribuíram para o declínio progressivo do Banco: os erros gerenciais de Sassetti, que não conseguia coordenar de forma correta os diretores das filiais, a má atitude de Lorenzo il Magnifico em relação aos negócios, as difíceis relações com a Cúria Papal devido a inimizade entre Lorenzo e o Papa Sisto IV. Nesse contexto, o Banco dos Pazzi, também florentino, substituiu o Banco Medici, como banqueiro do Papa. A família Pazzi ordenou (1478) a famosa conspiração contra os Médici, que levou à morte de Giuliano, irmão e parceiro de Lorenzo.

Embora após a morte do papa Sisto IV (1484), os Médici tenham recuperado a posição de banqueiro do papa, sua posição agora estava comprometida e seu poder em declínio. Em 1494, dois anos após a morte de Lorenzo e a chegada do Carlos VIII, o governo Medici foi derrubado em Florença e a crise do Banco Medici se transformou em falência. No entanto, o Banco operou por mais de um século, uma duração indubitavelmente excepcional em um momento em que as empresas bancárias resistiram muito menos. Ferdinando II, teve a difícil missão, de fechar definitivamente, o banco da família, no século XVII.

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Cristiane de Oliveira

Brasileira do Rio de Janeiro, vive em Florença ha 17 anos. Apaixonada por arte, historia e bons vinhos. Guia de turismo e sommelier na Toscana.

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