Em homenagem aos 500 anos da morte de Leonardo da Vinci, a Jovem Mona Lisa é em exibição até o dia 30 de julho de 2019 no Palazzo Bastogi, em Florença.
Em 2012 foi anunciado na Suiça a existência de uma obra que representava uma nova versão do quadro mais famoso do mundo: a Mona Lisa. Trata-se de uma obra que muitos historiadores e pesquisadores atribuem a Leonardo da Vinci: a Jovem Mona Lisa, conhecida também como Earlier Mona Lisa ou ainda como Mona Lisa de Islewort.
Durante muitos anos, a Mona Lisa do Louvre, foi considerada a única versão feita por Leonardo da Vinci. Das dezenas de Mona Lisas espalhadas pelo mundo, existe uma que tem chamado muita atenção dos pesquisadores nos últimos anos: a Jovem Mona Lisa.
História da Jovem Mona Lisa
A pintura foi trazida para a Inglaterra em 1778 e foi mantida em uma mansão de Somerset pertencente a um colecionador inglês. Em 1914, foi comprada por Hugh Blaker, um artista e comerciante de arte que vivia em Isleworth, uma cidade a oeste de Londres, daí o nome “Monna Lisa of Isleworth” . Em 1962 a obra passou para o colecionador de arte Henry Pulitzer que vendeu numerosos bens móveis e imóveis para comprá-la.
A tela foi então guardada no caveau de um banco em Lausanne. Quando Pulitzer morreu em 1979, a obra foi herdada por sua esposa, Elizabeth Meyer, e após sua morte em 2008, foi colocada à venda e comprada por um consórcio internacional, que a confiou à Mona Lisa Foundation de Zurique que a sujeitou a repetidos testes geométricos realizados pelo Swiss Federal Institute of Technology.
A Jovem Mona Lisa
De acordo com o professor John Asmus, que realizou repetidos e aprofundados testes científicos sobre a obra, além de submete-la à revisão peer-rewiew, Leonardo teria pintado Lisa Gherardini duas vezes: a primeira vez a pedido de Giocondo, seu marido, em 1503 quando ela tinha 23 anos; uma segunda vez, na versão do Louvre, dez anos depois, a pedido de Giuliano de ‘Medici.
Entre as evidências históricas que sustentam a existência de duas versões da Mona Lisa, há uma carta do florentino Agostino Vespucci, secretário de Maquiavel, que em outubro de 1503 escreveu que Leonardo da Vinci estava trabalhando no retrato de Lisa, uma dama florentina. Isso também seria confirmado por Giorgio Vasari, que data a pintura ao retorno de Leonardo a Florença por volta de 1503.
Outras evidências históricas, como por exemplo, a de Antonio de Beatis, secretário do Cardeal Luigi d’Aragona, em viagem a Cloux em 1517, relatou que Leonardo havia terminado a Mona Lisa em 1517 a pedido de Giuliano di Lorenzo de ‘ Medici, para quem ele já havia trabalhado em Roma entre 1513 e 1516. Pela data, é fácil concluir que Antonio de Beatis se referia o retrato do Louvre.
Portanto, seria possível que existissem duas versões do mesmo assunto? Uma datada de 1503 e outra a 1517? Não seria a primeira vez que Leonardo faria duas versões da mesma obra, basta pensarmos na Virgem das Rochas. Existe uma versão no Louvre datada de 1483-1486 (cerca) e outra na National Gallery de Londres, feita em data posterior.
As semelhanças entre as duas obras são maiores que as diferenças. A versão jovem foi feita em tela e não em madeira. Na época não era muito comum utilizar tela, em vez de madeiras na execução dos quadros em Florença. Mas Leonardo foi um grande inovador, quando falamos de técnicas e sabemos que ele já tinha escrito sobre o assunto “tela” no seu Tratado da Pintura. Botticelli, no final do século XVI, também utilizou tela, no Nascimento de Vênus – justificado pois a Vênus é um quadro de grande dimensão.
Na Jovem Mona Lisa, as cores são mais vivas, mas ela sorri da mesma maneira enigmática que a Mona Lisa do Louvre. Além das diferenças fisionômicas do rosto, outras semelhanças aparecem na pose, na roupa, no véu e na disposição das mãos, enquanto a paisagem no fundo do retrato é claramente diferente.
Leonardo aplicou na Mona Lisa do Louvre uma técnica que foi desenvolvida por ele somente após 1508. Esta evidência exclui que o retrato do Louvre seja aquele visto por Agostino Vespucci em 1503.
Finalmente, as análises realizadas dizem que, embora as duas pinturas sejam diferentes em tamanho e proporção, os princípios geométricos que as governam e as regras de perspectiva das duas obras são iguais. Apesar das prudentes reservas expressas por grandes estudiosos de Leonardo, como Martin Kemp, estudos revelam que a Jovem Mona Lisa pode não ser é uma mera cópia do Louvre, mas uma pintura original de Leonardo da Vinci.
A Mona Lisa e as colunas
Em 1504, quando o jovem Rafael Sanzio se encontrava em Florença e estudava algumas obras de Leonardo, desenhou uma “Mona Lisa” ladeada por duas colunas, como visto na Jovem Mona Lisa, mas não na Mona Lisa do Louvre.
É possível ver as duas colunas também em outras cópias posteriores da Mona Lisa, como aquelas preservadas na National Gallery em Oslo e no Walters Art Museum em Baltimore.
A presença das colunas era um dos motivos pelo qual muitos estudiosos pensavam que a Mona Lisa do Louvre poderia ter também as colunas, e que elas provavelmente poderiam ter sido cortadas em época posterior.
No entanto, em 1993, Frank Zöllner observou que a camada pictórica da imagem do Louvre nunca havia sido cortada. Isto foi confirmado por exames científicos realizados em 2004. Por essa razão, Vincent Delieuvin, curador da pintura italiana do século XVI no Museu do Louvre, afirmou que tanto o desenho de Rafael quanto as cópias com colunas devem ter sido inspirados por outra versão, enquanto Frank Zöllner acredita que o desenho indica a execução por Leonardo de outra obra sobre o tema da Mona Lisa.
A Mona Lisa de Madrid
A Mona Lisa do Prado entrou na coleção real espanhola em 1666. Feita em madeira, é datada entre os anos de 1503-1509, mesmo período da Mona Lisa mais famosa. Estudos técnicos e a restauração realizada entre 2011 e 2012 revelaram que se tratava de uma cópia da Mona Lisa do Louvre, feita provavelmente por um dos alunos mais próximos de Leonardo. Quem sabe é uma obra de Salai ou de Francesco Melzi, ou ainda um discípulo espanhol de Leonardo?
Na realização da obra de Madrid foram utilizados materiais de excelente qualidade. A execução da obra foi muito precisa, mas a técnica é diferente, típica de um artista que pintou um desenho de qualidade inferior, com pincelada muito simples, contínua, linear e compacta sem a presença de técnica pictórica característica de Leonardo, o sfumato.
A exposição em Florença
A Jovem Mona Lisa é em exibição em Florença pela primeira vez na Europa fora do caveau do banco suiço onde a obra foi mantida por 40 anos. A obra é propriedade da Mona Lisa Foundation de Zurique, o qual presidente é Markus Frey.
A exposição de Florença discute o tema da Mona Lisa propondo uma comparação com a icônica Mona Lisa conservada no Louvre.
A Mona Lisa Jovem será exposta a Florença até o dia 30 de julho no salão de festas do Palazzo Bastogi. A exposição é curada pela The Mona Lisa Foundation e possui um itinerário interativo que prevê a utilização de un tablet e inclui 30 videos com reconstrução histórica da hipótese da atribuição da obra á Leonardo. Para a fundação não há dúvida: a obra, inacabada, retrata uma jovem Lisa Gherardini e foi executada por Leonardo da Vinci entre 1503 e 1506, cerca de dez anos antes da Mona Lisa do Louvre.
A exposição pode ser visitada com entrada franca e a magia de Leonardo também pode ser apreciada pelos cegos,graças as reproduções táteis da Mona Lisa Jovem e da Mona Lisa do Louvre. O sistema 3D nos permite entender as principais diferenças entre as duas com detalhes únicos dispostos de forma a permitir comparações diretas, por exemplo, entre os lábios das duas versões.
Díficil dizer se é um original de Leonardo da Vinci, mas posso afirmar com certeza que a obra é linda e que desperta grandes emoções.
A entrada e o uso do tablet são gratuitos. É necessário apresentar um documento de identidade na portaria do Palazzo.
Informações adicionais
- Onde: Palazzo Bastogi – Via Cavour, 18 Florença;
- Quando: de segunda a sexta-feira até 30 de julho;
- Horário: das 10h30 às 17h30 – Quinta-feira abertura até as 19h30;
- Fechado: 11 de julho.
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