Na semana passada assistimos um concerto do Quarteto da Orquesta Sinfonica de São Paulo no Cenáculo da Basílica de Santa Croce em Florença. Muita gente me pediu para falar um pouco do cenário deste concerto.

Toda a parede posterior do Cenáculo da Basílica de Santa Croce em Florença é como se fosse um enorme retábulo: é ocupado por uma complexa cena pintada que inclui a Última Ceia dominada pela Crucificação, com os Estigmas de São Francisco e três histórias sagradas relacionadas com a comida. Estas últimas referem-se ao uso primitivo da grande sala como refeitório, local onde os frades se alimentavam em silêncio e eram convidados à meditação individual.

A Crucificação era a iconografia habitual dos antigos refeitórios conventuais, mas pela primeira vez neste afresco foi acrescentada a Última Ceia, tema que se tornará protagonista absoluto nos Cenáculos dos séculos XV e XVI.

A cruz é representada como uma “árvore da vida” – inspirada no Lignum vitae do Franciscano São Boaventura de Bagnoregio – da qual doze ramos se ramificam formando medalhões nos quais bustos dos profetas seguram rolos que convidam a contemplar o sacrifício de Cristo.

Detalhe: São Boaventura

Abaixo, São Francisco abraça a cruz e quem encomendou a obra ajoelha-se ao lado dele; Em seguida o próprio Bonaventura a escrever; à esquerda estão representados a Virgem com as Devotas Mulheres e São João Evangelista, à direita os principais santos da Ordem Franciscana (Antônio de Pádua e Luís de Toulouse) e Domingos.

Para sublinhar a encomenda feminina da obra, talvez devido à terciária franciscana Vaggia Manfredi, falecida em 1345. O brasão da família Manfredi aparece quatro vezes na moldura pintada do afresco e numa placa de pedra da mesma família, no lado norte da igreja, testemunha a presença do sepultamento de um membro da família.

Detalhe: Vaggia Manfredi?

Os afrescos são obra de Taddeo Gaddi, colaborador de Giotto por vinte e quatro anos, seu primeiro e mais importante aluno. A data de execução – discutida – é colocada entre 1333 e 1360. As figuras dos apóstolos, maiores que todas as outras, são inseridas com realidade plástica no espaço.

Os estragos causados ​​pela enchente de 1966 obrigaram a destacar o imenso afresco em outubro de 1967 com uma das operações mais ousadas da história da restauração. O afresco foi realocado em dezembro de 1968.

Hoje, o Cenáculo de Santa Croce faz parte do percurso do museu da igreja.


Cristiane de Oliveira

Brasileira do Rio de Janeiro, vive em Florença ha 17 anos. Apaixonada por arte, historia e bons vinhos. Guia de turismo e sommelier na Toscana.

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