Filho mais velho do grão-duque Cosimo III e de Margarida Luisa de Orléans, Ferdinando morreu antes de seu pai e nunca se tornou grão-duque e, portanto, ainda é chamado de “grão-príncipe”. Ele herdou de sua mãe o temperamento rebelde e, ao mesmo tempo, o grande interesse pelas artes e o amor por colecionar de sua família paterna.

Justus Sustemans – Grão-Príncipe Ferdinando e sua irmã Anna Maria Luisa de’Medici

Desde da adolescência, Ferdinando mostrou-se nauseado pelas manias religiosas do pai, enquanto era atraído pela criatividade e pela beleza. Tentou isolar-se da corte e começou a freqüentar a vila de Pratolino, construída pela vontade de Francesco I de’Medici.

Villa di Pratolino. Lunetta di Giusto Utens (1588)

Ferdinando era apaixonado pelo magnífico jardim barroco, onde sobressaia a estátua gigantesca do Apenino, obra de Giambologna. Ele pediu ao arquiteto Antonio Ferri para fazer dentro da vila um espaço teatral dedicado a música, a sua arte preferida na qual era muito competente, sendo ele próprio um grande músico. O teatro de Pratololino foi muito famoso em toda a Itália pela hospitalidade concedida a muitos artistas importantes.

Gigante do Apenino – Giambologna

Durante algum tempo, Cosimo III decidiu tolerar o anticonformismo do filho; em seguida, reagiu, suspeitando que em Pratolino, por trás do escudo de arte, era criado um ambiente devasso, uma espécie de reino do amor livre. Cosimo então, começou a espia-lo além de mandar religiosos para ficarem na cola do filho. Assim, para distanciar-se de Florença e da censura paterna, Ferdinando conseguiu em 1687 licença para viajar para Veneza.

Grão-Principe Ferdinando

Cosimo assim, começou a procurar uma esposa para Ferdinando. A noiva escolhida foi Violante Beatrice, filha do Eleitor Imperial Ferdinando de Baviera e Adelaide de Savoia. Depois de muita resistência o casamento foi celebrado em Janeiro de 1689. Em homenagem ao casamento, Francesco Riccardi organizou uma recepção extraordinária no Palazzo Medici, comprado em 1659, ampliado e suntuosamente reformado e mobiliado.

Aparentemente, Violante se apaixonou de imediato pelo marido; este por sua vez não sentia nenhum interesse pela mulher. Ferdinando, mesmo após o matrimônio, continuou sua vida de aventureiro. Violante suportou todas as andanças do marido e era sempre pronta a perdoá-lo.

Violante Beatrice di Baviera – Giovanna Fratellini, 1720

Ferdinando e Violante, cuja união foi prejudicada pela conduta libertina do grão-príncipe, não tiveram filhos. Na sua última viagem a Veneza (1696) por ocasião do carnaval, Ferdinando voltou com sífilis. O curso da doença foi lenta, mas inexorável, levando-o a morte em 31 de Outubro de 1713. Na ausência de filhos, o direito de sucessão passou para seu irmão Gian Gastone.

Violante foi amada pelo povo e, ao contrário da sogra francesa, tinha um verdadeiro apego à Toscana, tanto que ali permaneceu mesmo depois de ficar viúva, até a morte (1731).

Grão-Principe Ferdinando e seus músicos – Gabbiani

Em seu apartamento no Palazzo Pitti e nas vilas de campo onde gostava de se retirar, Ferdinando de ‘Medici cultivou sua paixão pela música e seu amor por colecionar pinturas e antiguidades, procurando incansavelmente objetos raros e refinados; da mesma forma, foi um mecenas atento e curioso, promovendo artistas contemporâneos.

As vilas dos Medici preferidas de Fernando eram a vila de Pratolino (destruída) e a vila de Poggio a Caiano onde, em 1699, montou um “Gabinete de pequenas obras de todos os pintores mais famosos”, com mais de 170 obras de pequeno formato de excelentes autores, como Albrecht Dürer, Rubens, entre outros. As obras listadas no inventário então elaborado são mais de mil desenhos, pinturas, esculturas, objetos de decoração e móveis. O grão-príncipe Ferdinando foi o último grande colecionador e mecenas da família Medici.


Cristiane de Oliveira

Brasileira do Rio de Janeiro, vive em Florença ha 17 anos. Apaixonada por arte, historia e bons vinhos. Guia de turismo e sommelier na Toscana.

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