Rodolfo Siviero, o 007 da arte italiana, é famoso em Florença por ter doado à comunidade uma vasta coleção de obras de artes que atualmente fazem parte do Museu Casa Siviero em Florença.

Hoje, no entanto, não falaremos do museu, mas do caráter extraordinário deste personagem, que em vida foi uma espécie de James Bond, dedicando assim um grande período da sua vida à investigação e à recuperação de obras de arte italianas roubadas (especialmente, mas não só) pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial.

Rodolfo Siviero com uma obra recuperada de Pontormo que hoje se encontra na Galleria degli Uffizi em Florença. Fonte: Wikipédia

Na verdade ele é lembrado principalmente por seu papel crucial na preservação do patrimônio cultural italiano. Seus métodos sagazes, suas façanhas ousadas e seus hábitos propensos ao luxo e requinte fizeram de Siviero um verdadeiro 007 da Arte.

Fiorentino por adoção e vocação artística, Siviero chegou em Florença com apenas de 13 anos de idade, isso porque ele queria se tornar um crítico de arte. A partir de 1943, Siviero dedicou todas as suas energias para a recuperação de obras ‘de arte que ele tanto amava. A guerra de Siviero contra a ocupação alemã não foi feita com emboscadas, atentados e armas, mas sim recuperando tesouros que foram subtraídos pela ganância e astúcia nazista.

Sua atividade era acima de tudo, monitorar o famigerado Departamento Kunstschutz (“Departamento de Arte”), a divisão nazista responsavel pela transferência (roubo!) para a Alemanha das obras de arte dos territórios ocupados. Florença, é claro, era o lugar ideal para o roubo de obras de arte, principalmente, obras que pertenciam a Galleria degli Uffizi e da Accademia, mas também de igrejas e mosteiros.

O local da sede do “Grupo de Inteligência” de Siviero é o lar de um judeu comerciante de arte (a atual Casa Siviero). Os resultados mais impressionantes da recuperação e proteção do patrimônio artístico contra os nazistas são:

Ocultação em um armazém de todas as pinturas do pintor De Chirico, que em fuga dos nazistas com a sua esposa, foi forçado a abandonar suas obras na sua casa localizada em Fiesole;

A recuperação do quadro “Anunciação” de Beato Angelico, que tinha sido solicitada pessoalmente por Hermann Goring (militar alemão, político e líder do Partido Nazi – NSDAP), com a ajuda de dois frades do convento franciscano de Piazza Savonarola;

Operações de rastreamento das operações alemães que visavam transferir (roubar!) de Florença para o castelo de campo Tures 200 pinturas que pertenciam a Galleria degli Uffizi, bem como esculturas do mesmo museu, da Opera del Duomo e de outros museus florentinos. Através desta atividade, os Aliados encontraram as obras de arte que foram roubadas e que mais tarde foram devolvidas para a cidade de Florença.

As atividades de Siviero não acabaram com a desocupação nazista: graças aos méritos adquiridos durante a guerra, Rodolfo manteve posições de maior prestígio sempre fiel ao seu principal objetivo, ou seja, a recuperação do patrimônio artístico italiano. Então, em 1946, Siviero foi nomeado Ministro Plenipotenciário de De Gasperi para a missão que o levaria para a Alemanha para negociar com o governo aliado o princípio da restituição dos despojos de guerra.

Mas o núcleo de sua missão de 007 da Arte continuou ao longo de décadas: a partir dos anos cinquenta, até sua morte, em 1983, de fato, Siviero, sistematicamente, em nome do Governo italiano investiga e denuncia as obras de arte roubadas e/ou exportadas ilegalmente da Itália.

Após a guerra, Siviero fez uma série de recuperações sensacionais, não menos impressionantes do que as que ocorreram durante a guerra:

Madonna del Sollecito – Masaccio – Galleria degli Uffizi – Florença

A “Madonna del Sollecito” obra do pintor Masaccio foi recuperada pelo agente secreto da arte italiana duas vezes, a primeira em 1947, e uma segunda, em 1973;

A famosa cópia do atirador de disco de Mirone e 38 outras obras preciosas foram recuperadas em 1948;
Dois quadros que representam os Trabalhos de Hércules de Pollaiuolo foram encontrados em Los Angeles, em 1963;

Em 1946, Siviero obteve o retorno de todas as obras de arte roubadas dos museus napolitanos durante a guerra, incluindo Danae de Tiziano e Hermes por Lisippos.

A lista das obras recuperadas por Siviero é muito grande, pois a atividade do nosso agente secreto durou mais de 40 anos. Quem tiver interesse em conhecer um pouco mais sobre Rodolfo Siviero, a sugestão é visitar o Museu Casa Siviero em Florença.

No início dos anos sessenta, S

O catálogo das obras a recuperar

Siviero elaborou um catálogo das obras que desapareceram da Itália durante a Segunda Guerra Mundial e que não foram encontradas. O catálogo é uma ferramenta indispensável que pode permitir, se forem encontradas, o retorno de tais obras à pátria. A biblioteca da Casa Siviero mantém uma cópia do texto datilografado original deste catálogo.

Entre as obras a serem recuperadas, temos a cabeça de um fauno que era preservada no Museu do Bargello em Florença, e que foi retirada do depósito do Castello de Poppi em julho de 1944.  De acordo com a tradição, seria a cabeça do fauno mencionada em um famoso episódio da vida de Michelangelo escrita por Vasari. O jovem artista teria esculpido tal obra para as obras da coleção de Lorenzo, o Magnífico, no jardim de San Marco e, na sequência de uma observação do Senhor de Florença, Michelangelo quebrou os seus dentes para fazer com que o fauno parecesse mais velho.


Cristiane de Oliveira

Brasileira do Rio de Janeiro, vive em Florença ha 17 anos. Apaixonada por arte, historia e bons vinhos. Guia de turismo e sommelier na Toscana.

5 comentários

Felipe siviero lopes · dezembro 10, 2020 às 2:53 pm

Oi, tenho sobrenome Siviero, ele era meu bisavô, você poderia me ajudar? Dar mais informações da família siviero aí na Itália!

    Cristiane de Oliveira · dezembro 16, 2020 às 9:53 pm

    Oi Felipe, infelizmente não tenho muitos conhecimentos sobre as familias italianas. Aqui em Florença, Rodolfo Siviero foi muito importante. A sua casa hoje é um museu. Um grande abraço

    Douglas · junho 15, 2023 às 1:01 am

    meu Bisavô se chamava Pietro Siviero, São Paulo capital.

ConJur – Franca e Franca: Máfia, arte e a resposta da Polícia Federal – Consultor Jurídico - Blog · janeiro 24, 2023 às 6:35 pm

[…] em 1968, graças à atuação do agente secreto e crítico de arte Rodolfo Siviero. Segundo a Direzione Investigativa Antimafia da Itália, por trás desse crime estava […]

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