O artigo de hoje é dedicado a biografia de Rafael Sanzio, grande pintor renascentista que em 2020 recordamos o aniversario de 500 anos da sua morte.
Assim Giorgio Vasari define Rafael Sanzio:
“Em Rafael resplendiam claramente todas as egrégias virtudes da alma, e a graça, o estudo, a beleza, a modéstia e os bons costumes que as acompanhavam eram tamanhos, que teriam encoberto e escondido qualquer vício, por mais feio, e qualquer mácula, por maior que fosse. Por esse motivo, pode-se dizer com segurança que aqueles que possuem os dotes de Rafael não são homens simplesmente, mas deuses imortais.”
(Giorgio Vasari – A vida dos grandes artistas)
Um pouco e história
Filho do pintor e literato Giovanni Santi e Maria di Giovan Battista Ciara, Rafael nasce no dia 06 de abril de 1483 em Urbino, um dos centros mais importantes do Renascimento italiano. Provavelmente adquire os primeiros conhecimentos de pintura na oficina do pai, que era um pintor profissional. Muito cedo, Rafael fica órfão de mãe em 1491 e de pai em 1494.
Segundo Giorgio Vasari no livro As vidas dos grandes Artistas (1550 e 1568), o jovem Rafael estudou na oficina de Pietro Vannucci, conhecido também como Perugino, um artista renomado e que estava no ápice do seu sucesso. Hoje, muitos historiadores discordam de Vasari, apesar de ser inegável a influência de Perugino na arte de Rafael.
Em 1499 Rafael se transfere para Città di Castello, onde, com apenas 17 anos de idade, recebe a sua primeira encomenda de “magister” em colaboração com o pintor Evangelista di Pian di Meleto, que já havia colaborado com Giovanni Santi: o retábulo com a Coroação do beato Nicola da Tolentino (1500-1501). Dessa obra, chegou até nós apenas fragmentos e hoje faz parte da coleção do Museu Nazionale di Capodimonte.
Na cidade Umbra, nos próximos quatro anos, Rafael realiza as suas primeiras obras-primas, como a Crocifissione Mond (Londres, National Gallery) e o Sposalizio della Vergine (Milão, Pinacoteca di Brera). Nesta época, o seu estilo se afasta daquele de Perugino e se aproxima de Piero della Francesca e Leonardo da Vinci. Em 1502-1503, colabora em Siena com Bernadino di Betto, conhecido como Pintoricchio na realização dos afrescos da Libreria Piccolomini no Duomo.
O período florentino
Entre 1504-1508, Rafael divide seu tempo entre Perugia, Urbino e Florença. Era um jovem desconhecido e a a capital da Toscana oferece um ambiente muito estimulante, principalmente porque naquele periodo, se encontram na cidade Michelangelo e Leonardo da Vinci que estão trabalhando no Palazzo Vecchio.
Nas obras Madonna del Cardellino (Galleria degli Uffizi) e Madonna del Granduca, podemos observar uma forte influência de Leonardo da Vinci, principalmente pelo uso do sfumato.
Em Florença Rafael observa também os mestres do século XV, como Masaccio, Donatello e Luca della Robbia. Recebeu influência também de Fra Bartolomeo, mas com uma troca recíproca e contínua de ideias. O jovem artista aspira importantes encomendas públicas, mas será muito solicitado pela burguesia florentina, com diversos retratos e representação da Virgem Maria com o Menino Jesus. Entre os principais mecenas de Rafael em Florença encontramos as familias Nasi, Canigiani, Taddei e Doni.
Para Agnolo Doni e Maddalena Strozzi, que eram mecenas também de Michelangelo, Rafael realizada dois retratos, conhecidos como Conjugue Doni, uma das obras mais importantes do período florentino. Diversamente, para a corte de Urbino, Rafael realiza pequenos quadros com temas mitológicos e celebrativos. Em Perugia realiza imponentes retábulos para altar de igrejas.
Em 1508 Rafael parte para Roma e deixa inacabada a única obra encomendada por uma igreja florentina, a Madonna del Baldacchino para o altar Dei em Santo Spirito. Hoje a obra faz parte da coleção da Galeria Palatina no Palazzo Pitti.
O período romano
Giuliano della Rovere, eleito papa com o nome de Giulio II, foi com muita probabilidade o maior e mais influente mecenas da sua época. Em Roma, a pedido de Giulio II, Rafael decora as salas do novo apartamento do Papa. Nos anos os quais Michelangelo trabalha na decoração do teto da Capela Sistina, Rafael realiza no Vaticano os afrescos da Stanza della Segnatura (Sala da Assinatura – 1511) com a Disputa do Sacramento, a Escola de Atenas, Parnaso e as Virtudes. Prossegue com as decorações da Stanza di Eliodoro, com o afresco da Cacciata di Eliodoro e la Messa di Bolsena (1511-1514).
Enquanto isso o banqueiro sienese Agostino Chigi, encomenda alguns afrescos para a sua mansão romana, a Farnesina (Trionfo di Galatea) e para a capela na igreja de Santa Maria della Pace. Entre 1512-1513 Sanzio realiza obras que renovam profundamente a concepção de um retábulo de altar de igrejas: A Maddona di Foligno e principalmente a Madonna Sistina.
Após a morte de Giulio II (1513), o novo Papa Medici Leão X, confia a Rafael muitas encomendas. Leão X, filho de Lorenzo o Magnifico, grande mecenas do Renascimento, foi um papa culto e amante das arte, era consciente do poder da imagem para sustentar e difundir a ideologia pontifícia. Nos anos leonini, Rafael foi celebrado com o maior artista vivente, operando em todos os gêneros da arte: da pintura sacra à decoração profana, dos monumentais ciclos pictrióco aos pequenos quadros realizados para colecionadores privados.
Rafael começa a se interessar por arquitetura e assim começa a projetar a Capela Chigi na igreja Santa Maria del Popolo em Roma. Com a morte de Bramante, Rafael foi nomeado arquiteto da basílica Vaticana. Seguirá entre outros, o projeto, parcialmente realizado, para a villa Madama. Ele foi um arquiteto dotado de grande genialidade, estudou muito a arquitetura dos restos dos edificios antigos romanos, o que lhe permitiu desenvolver a sua linguagem inovadora. Sanzio nos deixou muitos desenhos de edíficios, todos inspirados em monumentos clássicos.
O grande número de encomendas e o grande compromisso de arquiteto da Basílica de São Pedro obriga Rafael a se circundar de outros pintores colaboradores e de jovens assistentes. A sua obra, começa então a ser copiada e difundida dentro e fora da península italiana. Nesse período Rafael recebe diversas encomendas privativas. Entre 1514 e 1515 realiza o retrato de Baldassare Castiglione, (poeta, prosador e amigo fraterno), Madonna della Seggiola e o Extase de Santa Cecilia. E nessa época que Rafael é nomeado Superintendente das escavações e da antiguidade.
Em 15 de outubro de 1515, Rafael recebe o primeiro pagamento de uma grande e importante encomenda: 10 desenhos para um ciclo de preciosos arazzi (tapeçaria) com as histórias de Pedro e Paulo que deveriam ser colocados nas paredes da Capela Sistina. Para Leão X, essa importante encomenda oferecia a oportunidade de colocar um selo da família Medici em um dos locais mais sagrados de Roma.
O ciclo de arazzi foi pensado por Rafael como um diálogo com os afrescos realizados por pintores toscanos e umbros no século XV que correm ao longo das paredes da Sistina, mas principalmente com o teto afrescado por Michelangelo. Em Fevereiro de 2020, em comemoração aos 500 anos da morte de Rafael, os arazzi foram recolocados de forma extraordinária na Capela Sistina.
Em 08 de novembro de 1515, ele compra uma casa no rione di Borgo em Roma, mas provavelmente nesta época está em Florença, para participar do concurso da fachada da Basílica de San Lorenzo. É nesse momento que provavelmente foi projetada a fachada do Palazzo Pandolfini em Florença. Sempre em 1515, Rafael envia ao maior pintor renascentista alemão Albrecht Durer, em sinal de estima e amizade, um desenho com dois personagens da Batalha de Ostia.
Nos palácios do Vaticano, enquanto as obras prosseguem principalmente com a ajuda de colaboradores, Rafael afresca a Loggetta e a Stufetta do Cardeal Bibiena. Em 1518, Rafael envia a Florença, o retrato do Papa Leão X e os cardeais Giulio de’Medici e Rossi, realizado para o matrimônio de Lorenzo de’Medici, sobrinho do papa e futuro pai de Catarina de’Medici.
Rafael foi o pintor da graça e da beleza, principalmente a feminina. Com o sexo oposto, teve diversos relacionamentos intensos, como recorda Giorgio Vasari que o descreve como pessoa muito amorosa e afeiçoado as mulheres. Podemos ver a representação da beleza feminina em diversas obras do mestre, como por exemplo a Velata e a Fornarina, as quais a crítica reconhece como a mulher amada de Rafael. Os retratos do sexo masculino em vez, nos induz a pensar no caráter intelectual nos traços representados com muita naturalidade.
A morte de Rafael
Em 06 de abril de 1520, com apenas 37 anos de idade, Rafael morre no ápice da sua carreira. Respeitando a sua vontade, o Príncipe das artes, repousa em Roma, no Panteão. Caso queira saber mais detalhes sobre a morte de Rafael, leia no nosso artigo: A morte de Rafael Sanzio. O seu breve e luminoso percurso, marcou para sempre a história da arte.
Nós finalizamos o nosso artigo com o autorretrato jovem de Rafael, que faz parte da coleção da Galeria Palatina, no Palazzo Pitti em Florença. O rosto juvenil do pintor, não tocado pelo tempo se transformou com o crescer do mito de Rafael na imagem canônica do artista dotado por natureza de graça e amabilidade quase sobrenatural.
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