No artigo de hoje vamos conhecer um pouco da vida de um dos grandes artistas do Renascimento Florentino: a biografia de Michelangelo Buonarroti. Vamos citar os momentos mais importantes da vida de Michelangelo, já que para detalhar a sua longa vida (Pasmem, 89 anos!!!), precisaríamos escrever um livro.

Breve biografia de Michelangelo Buonarroti 

A família de Michelangelo, os Buonarroti eram de origem florentina e viviam próximo a Basílica de Santa Croce, em Florença. Michelangelo nasce a Caprese, nos arredores de Arezzo em 06 de março de 1475 onde Ludovico, seu pai, exercia o cargo de Potestade.

Michelangelo era o segundo filho de Ludovico, antes dele tinha nascido Leonardo e depois Buonarroto, Giovan Simone e Sigismondo. Pouco após o nascimento de Michelangelo, na verdade no mês seguinde, termina o mandato de Ludovido e a família Buonararroti retornar à Florença. 

Ao chegar em Florença, Michelangelo foi viver com a sua babá em Settignano. Naquela época era a criança que ia viver na casa da babá e não o contrário, como fazemos hoje.

Ludovico batizou o filho em homenagem ao Arcangelo Miguel, dando o nome de Michele Agnolo, querendo signifnicar que ele era um ser celestial e divino, mais que mortal.

Os pais de Michelangelo

O pai de Michelangelo se chamava Ludovico di Leonardo di Buonarotta Simoni. Nasceu em 1444 e morreu em 1534, quando Michelangelo havia 59 anos de idade.

Sua mãe se chamava Francesca di Neri del Miniato de Serra e morreu em 1481, quando Michelangelo havia 06 anos de idade. Assim, não é verdade que ele não sabia representar o amor materno por não ter conhecido sua mãe.

Viúvo, Ludovico de casou novamente com Lucrezia degli Ubaldini, para dar aos seus filhos, que ainda eram muito pequenos, uma madrasta, ou melhor, uma segunda mãe.

Ludovico, que tinha muitos filhos e, sendo pobre e tendo uma numerosa família para alimentar com apenas pequenos proventos, pôs os outros filhos no aprendizado de alguns ofícios e ficou apenas com Michelangelo, que já na infância se aplicava a desenhar em papéis e muros.

O primeiro professor de Michelangelo

O primeiro professor de Michelangelo foi um certo Francesco del Serra, um humanista que ensinava gramática em Florença. Porém, o jovem aluno não era muito interessado nas aulas. Aprendeu a ler e a escrever.

Na oficina de Domenico Ghirlandaio

Um dos primeiros e poucos amigos de Michelangelo foi Francesco Granacci, pintor e discípulo de Domenico Ghirlandaio. Michelangelo deve ter conhecido Granacci entre os anos de 1486 e 1487, quando ele tinha cerca de 12 anos e seu amigo cerca de 18. Granacci nasceu em 1469.

Provavelmente foi Granacci quem levou Michelangelo para a oficina do Ghirlandaio. Não deve ter sido fácil convencer Ludovico Buonarrotti a autorizar o filho Michelangelo estudar arte. Para Ludovico, arte era degradação. Não tinha diferença entre um pintor de quadros e afrescos e um pintor de paredes.

“Meu pai e os irmãos do meu pai”, dirá com tristeza, o velho Michelangelo, “me batia sempre e forte, considerando uma vergonha que a arte tenha entrado na família”. Mas nem com boas ou más razões conseguiram convencer o jovem Michelangelo de abandonar a arte.

Com apenas 13 anos, o jovem Michelangelo foi estudar pintura, na oficina de Domenico Ghirlandaio. Ludovico assinou com Ghirlandaio um contrato de aprendizado com duração de 03 anos. Após poucos meses, esse jovem de 13 anos começou a surpreender o seu mestre.

Desenhava com um estilo inconfundível, diferente do Mestre Ghirlandaio. A crítica reconhece a participação de Michelangelo nos afrescos realizados por Ghirlandaio na Capela Tornabuoni na Basílica de Santa Maria Novella

Segundo Giorgio Vasari, quando Ghirlandaio se ausentou de Santa Maria Novella, o jovem Michelangelo se pôs a retratar o andaime com algumas mesas e alguns jovens que trabalhavam alí. Domenico, ao voltar e ver o desenho dissera: “Ele sabe mais do que eu” .

Segundo seus biográfos, não se passou nem um ano para o Michelangelo perceber que não tinha sido feito para cores e pincéis. Se a oficina de Ghirlandaio serviu para abrandar o seu desejo de desenhar figuras, ela também serviu para que o jovem artista compreendesse que o seu meio expressivo, aquele mais natural, não era a pintura, mas sim a escultura.

No jardim de San Marco

Michelangelo apresenta o busto do Fauno a Lorenzo o Magnífico - Palazzo Pitti, Florença
Michelangelo apresenta o busto do Fauno a Lorenzo o Magnífico – Palazzo Pitti, Florença

Lorenzo o Magnífico dos Medici possuia uma coleção de esculturas antigas, as quais foram colocadas no chamado Jardim de San Marco em Florença. Lorenzo encarregou Bertoldo, um ex-aluno de Donatello, de recrutar nos diversos ateliers, jovens que tinham o desejo de iniciar o estudo de esculturas.

Naquela época, em Florença existia muitos pintores, mas depois da morte de Rosselino, Desiderio da Settignano, Donatello, Luca della Robbia, Mino da Fiesole, Verrocchio… Escultores, muito pouco.

E assim, como aqueles encontros inesperados que mudam a vida da gente… Lorenzo o Magnífico cruza o destino do jovem Michelangelo.

Michelangelo abandona os pincéis vai estudar no Jardim de São Marcos, iniciando assim a familizar-se com o mármore, cinzéis e martelos.

Foi colocada no Jardim de São Marcos uma coleção de esculturas antigas de forma didática, a fim que os jovens talentos aprendessem os segredos da arte clássica.  

Nos conta Giorgio Vasari que um dia Michelangelo começou a copiar um busto antigo de um fauno. A obra chamou tanto a atenção do mestre Bertoldo que ele decidiu mostrá-lo à Lorenzo. O Magnífico gostou muito da obra, mas disse que como o fauno era muito idoso, não poderia ter todos os dentes na boca. Sempre falta um, né.?!

Passados alguns dias, Lorenzo retornou ao Jardim de San Marco e viu novamente a cabeça do fauno. Percebeu que Michelangelo retirou um dos dentes, mas também, tinha melhorado um pouco a gengiva.

Lorenzo ficou contentissimo e ordenou que o jovem talento recebesse proventos mensais de 5 ducados para poder ajudar o pai.

Alí, o talento do jovem escultor foi rapidamente notado por Lorenzo, o Magnífico, o qual acolheu Michelangelo no Palazzo de Via Larga, atual Palazzo Medici-Riccardi. Para tal Palazzo, Michelangelo desenhará a famosa “finestra inginocchiate” (janela ajoelhada), para fechar a Loggia Michelozziana. 

Na corte dos Medici, Michelangelo pôde respirar a atmosfera do humanismo de Marcilio Ficino e Agnolo Poliziano, que influenciou muito a sua formação. É neste contexto que Michelangelo realiza as suas primeiras esculturas como a Batalha dos Centauros e a Madonna della Scala (Nossa Senhora da Escada), ambas conservadas no Museu Casa Buonarroti em Florença. 

Em Roma

Pietà Vaticana – Basílica de São Pedro

Pouco tempo depois de esculpir o Crucifixo de madeira para o Piore da Basílica de Santo Espírito, provavelmente após a morte do seu protetor Lorenzo o Magnífico, Michelangelo faz uma série de viagens que o levará até Roma.

O contato com o mundo clássico foi muito importante para Michelangelo receber as primeiras encomendas em Roma: Baco do Bargello e a celebríssima Pietá do Vaticano. É neste período que Michelangelo faz a sua primeira viagem as pedreiras de Carrara, a fim de escolher a matéria prima das suas esculturas. 

O retorno à Florença

Em 1501, novamente em Florença, assina o contrato para as esculturas do Altar Piccolomini no Duomo de Siena. Michelangelo realizou 04 esculturas que ainda podemos admirar na catedral de Siena: São Paulo, São Pedro, Santo Agostinho e São Gregório.

David – Michelangelo – Galleria dell’Accademia, Florença

Em poucos anos realiza duas grandes obras-primas: o David (1501-1504) da Galleria dell’Accademia e o Tondo Doni, dos Uffizi, mas também o Tondo Pitti (Bargello).

Em 1503 assina o contrato para realizar os 12 apóstolos para o Duomo de Florença. Infelizmente, Michelangelo iniciou somente o São Mateus que não foi finalizado e hoje faz parte do acervo da Galleria dell’Accademia.

Neste período, que coincide em parte com a primeira Repúlblica Florentina (1494-1512), Michelangelo tem o primeiro contato direto com Leonardo da Vinci. 

Michelangelo e Leonardo da Vinci

Os dois gênios do Renascimento, foram chamados para realizar um grandioso afresco na Sala del Gran Consiglio do Palazzo Vecchio, atual Salão dos 500. Michelangelo realizaria a Batalha de Cascina, que infelizmente não saiu do papel e Leonardo, a Batalha de Anghiari, que infelizmente foi realizada em parte e depois perdida (há controvérsias!). Mas isso é um assunto para um próximo artigo. 

O Papa Julio II

Nos anos seguintes, Michelangelo era ocupado com duas obras em Roma, de fundalmental importância: o tormentado projeto, tantas vezes modificado para o monumental túmulo do Papa Júlio II, para o qual realizará o Moisés (San Pietro in Vincoli – Roma), os Prisioneiros da Accademia e do Louvre e o Gênio da Vitória do Palazzo Vecchio e o titânico teto da Capela Sistina (1508-1512). 

O complexo de San Lorenzo

Em Florença, entre 1515-1534, durante o Papado de Leão X e Clemente VII (respectivamente filho e sobrinho de Lorenzo, o Magnífico), trabalhou em uma série de obras no complexo da Igreja de San Lorenzo: a fachada da igreja, que nunca foi realizada, a Sacristia Nova, a Biblioteca Mediceo-Laurenziana. 

Neste meio tempo, Michelangelo participou ativamente da segunda República Florentina, assumindo o cargo de superintendente das fortificações militares da cidade. Após muita resistência, a cidade teve que capitular diante do assédio Imperial de 1530, que marcou o retorno da família Medici à Florença. Desse período é datado o David-Apollo do Bargello

A fortificação da muralha de Florença

Em 1529, Michelangelo foi encarregado da gestão das obras de fortificação da muralha de Florença durante o assédio da cidade por parte das tropas de Carlo V, aleados dos Médicis. Era o período que os Medicis tinham sido exiliados e a cidade era governada pela República Florentina.

A partida definitiva para Roma

Em 1534 Michelangelo partiu definitivamente para Roma, onde outras grandes obras lhe esperavam: o Juízo Final da Sistina, (onde se manifesta a sua profunda e tormentada religiosidade), a versão final do túmulo de Julio II (muito reduzido a respeito do projeto original) e a Cúpula de São Pedro. 

As suas duas últimas esculturas, sublime expressão de espiritualidade foram a Pietá Bandini da Opera del Duomo em Florença iniciada em 1547 e a Pietá Rondanini, do Castelo Sforzesco em Milão. Esta última, Michelangelo estava trabalhando quando morreu com 89 anos de idade. 

A morte de Michelangelo

Tumba Michelangelo – Basílica de Santa Croce – Florença

Era fevereiro de 1564.

Segundo a carta escrita por Danielle da Volterra e enviada a Giorgio Vasari, na segunda-feira de carnaval Michelangelo adoeceu. Michelangelo pediu a Daniele para escrever que fosse uma carta endereçada ao seu sobrinho Leonardo Buonarroti, para que ele se dirigisse até Roma.

” A doença de Michelangelo durou apenas cinco dias e na sexta-feira a noite antes de falecer o mestre sussurrou, com voz fraca, mas firme:

“Deixo a minha alma nas mãos de Deus; o meu corpo á terra e as minhas coisas aos parentes“.

Michelangelo morreu em Roma no dia 18 de fevereiro de 1564 aos 89 anos de idade. Uma de suas últimas fadigas foi o projeto da cúpula da Basilica de São Pedro no Vaticano, que o mestre não viu finalizada.

Quando Leonardo, sobrinho e herdeiro de Michelangelo chegou em Roma, o corpo do Mestre já estava sendo velado na igreja dos Santos Apóstolos. O sobrinho ordenou que o corpo do artista deveria ser levado até Florença. Mas Leonardo ficou sabendo que o Papa fazia questão que Michelangelo permanecesse em Roma, oferecendo inclusive que fosse sepultado na Basílica de São Pedro.

O problema era que Leonardo não queria desiludir Cosimo I dos Medici, que aguardava em Florença a chegada do corpo de Michelangelo. Assim, Leonardo Buonarroti, juntamente com o embaixador de Florença, teve a infeliz ideia de trafugar em segredo, o corpo do Mestre.

Em 11 de março de 1564, o corpo do Divino Michelangelo chega em Florença. Michelangelo foi sepultado com grandes glórias na Basílica de Santa Croce, onde anos mais tarde, foi realizado sob o desenho de Giorgio Vasari, o célebre monumento fúnebre

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Cristiane de Oliveira

Brasileira do Rio de Janeiro, vive em Florença ha 17 anos. Apaixonada por arte, historia e bons vinhos. Guia de turismo e sommelier na Toscana.

2 comentários

GILMAR RECh · março 28, 2021 às 5:50 pm

Achei ótimo este artigo no momento no momento em que estou lendo O príncipe de Maquiavel. Um momento histórico fervilhando e de muita arte ..

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