Todo mundo conhece Dante Alighieri como escritor e poeta, mas poucos sabem que o Sumo Poeta foi também um grande político. Hoje iremos contar um pouquinho sobre o exílio de Dante Alighieri.

No tempo de Dante, Florença era dividida entre guelfos (apoiadores do Papa) e Gibelinos (apoiadores do Imperador). Logo Florença se tornou uma cidade Guelfa, com a expulsão dos gibelinos.

O Papa Bonifacio VIII

Papa Bonificio VIII - Arnolfo di Cambio - Museu Opera del Duomo - Florença
Papa Bonificio VIII – Arnolfo di Cambio – Museu Opera del Duomo – Florença

Dante era um orgulho Guelfo, mas mesmo assim, ele não apoiou a eleição do Cardeal Benedetto Caetani, após a renuncia do Papa Celestino V em 1294. Para Dante, o Cardeal era símbolo de corrupção e interesse financeiro.

O novo pontífice, que adotara o nome de Bonifácio VIII, iniciou uma política expansionista e Dante tornou-se um oponente feroz. Assim, o partido Guelfo começou a se dividir e formaram-se duas facções: os brancos, os quais Dante apoiava, e os negros, expressão das famílias mais ricas que estavam ligadas ao papa por interesses econômicos.

O Conselho dos Cem e os Priori Dante Aligheiri e Dino Compagni decidiram enviar para o exílio os principais representantes das duas facções. Devido a sua escolha, Dante foi odiado por seus oponentes e, por essa razão, Bonifácio VIII pôs em prática uma estratégia, que foi na verdade uma grande armadilha para Dante.

O exílio de Dante Alighieri

O Papa, com a desculpa de pacificar a cidade, enviou Carlos de Valois à Florença. A intenção, porém era de favorecer o retorno dos guelfos negros que tinham sido exiliados. Essa foi a causa de Dante colocar Bonifacio VIII no Inferno (Divina Comédia), antes mesmo da sua morte.

No dia 01 de novembro de 1301, chegou em Florença Carlos de Valois, juntamente com as suas tropas. Apenas 04 dias depois, Corso Donati, um guelfo negro, retornou à cidade de Florença e quitou as contas com os Brancos. Sem que o pacificador Carlos de Valois fizesse nada, casas foram saqueadas e queimadas, mulheres foram violentadas e crianças foram mortas.

Após a enéssima fase sanguinária da história de Florença, foi eleito Podestá Cante de Gabrieli, e Dante assim foi acusado de rebelião contra o Papa e de apropriação indébita de dinheiro público. Nesse momento, Dante se encontrava juntamente com outros colaboradores na embaixada em Roma, e não retornou a Florença, como solicitado. Por isso foi condenado ao pagamento de um multa altíssima, que certamente ele não tinha condições de pagar, além do exílio de dois anos. Era 27 de janeiro de 1302.

Como o pagamento da multa não foi feito, no dia 10 de março de 1302, a condenação de transformou em confisco de bens e morte, no caso Dante fosse capturado pelas autoridades. Dante nunca mais retornou a sua cidada natal e nunca mais viu o seu Bel San Giovanni (Batistério de Florença).

Exílio e Divina Comédia

Dante e a Divina Comédia – Domenico di Michelino – Duomo de Florença

O significado do exílio para Dante foi muito profundo, ele teve que se despedir para sempre de sua terra e, assim, iniciou-se uma longa fase de sofrimento interior, da qual nasceu sua maior obra-prima: A Divina Comédia.

Em vários pontos de sua obra, Dante se refere ao seu exílio: no canto III do Inferno, referindo-se ao papa Celestino V, afirma “Depois disso reconheci uma sombra entre a multidão, sombra daquele que, por covardia, perpetrou a grande renúncia.”

Nas suas obras, Dante tenta transformar positivamente sua posição, afirmando que era um auto-exílio ou uma escolha voluntária de expatriar, como ele já se sentia excluído da sociedade florentina. O exílio, portanto, especialmente hoje, não é apenas uma condição negativa, mas também uma condição natural do homem que o torna um cidadão do mundo.


Cristiane de Oliveira

Brasileira do Rio de Janeiro, vive em Florença ha 17 anos. Apaixonada por arte, historia e bons vinhos. Guia de turismo e sommelier na Toscana.

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