O protagonista do artigo de hoje é o internacional vinho Super Toscano (Super Tuscans). O que é o Super Toscano? Onde e como é produzido? Qual é a sua história? Todas essas perguntas serão respondidas ao longo do nosso artigo.

A origem dos Super Tuscans

No final do século XIX, o barão Benito Ricasoli, após algumas experiências com a uva sangiovese, inventou a receita que caracteriza o vinho Chianti: sangiovese, canaiolo e malvasia. Aproximadamente cem anos depois, mais precisamente nos anos sessenta, alguns produtores de vinho da Toscana se sentiam vinculados a fórmula inventada pelo Barão Ricasoli, e assim as regras impostas pelo disciplinar de produção do Chianti.

A maior parte dos vinhos produzidos na Itália respeitam um disciplinar, ou seja, um grupo de regras que devem ser respeitadas antes e durante a produção do vinho. Por exemplo, uma das regras do atual disciplinar do Chianti Clássico prevê que as uvas utilizadas na sua produção devem ser no mínimo 80% (oitenta por cento) de Sangiovese. Se tais regras não forem respeitadas, o vinho não poderá ser chamado de Chianti Clássico. E assim acontece com o Brunello de Montalcino, com o Vinho Nobile de Montepulciano, com a Vernaccia de San Gigmignano, etc.

Bolgheri – Toscana

O Marquês Mario Incisa della Rocchetta foi o primeiro a decidir a não se limitar as severas regras do disciplinar do Chianti na produção dos seus vinhos. O Marquês resolveu experimentar uma nova possibilidade com a ajuda do grande enólogo Giacomo Tachis, produzindo o vinho Sassicaia, o grande precursor dos Super Toscanos. O Marquês sabia exatamente o que estava fazendo pois havia um grande trunfo escondido debaixo das mangas: o solo de Bolgheri, pequeno povoado localizado no norte da Toscana, onde ainda é produzido o Sassicaia, possui características muito parecidas com o solo de Graves, próximo a Bordeaux, na França. Assim sendo, o solo de Bolgheri não era ideal para o Sangiovese, mas perfeito para cultivar uvas internacionais de altíssima qualidade, como por exemplo Cabernet Sauvignon e Cabernet Franc.

A intuição do Marquês foi de contrapor ao Chianti Clássico um novo conceito de vinho toscano, excluindo o sangiovese que é a uva rainha da Toscana e desfrutar as característica do território que demonstrava grande potencialidade no cultivo de uvas “não autóctones”, como as uvas bordolesas (chamadas assim porque são uvas provenientes de Bordeaux). Nascia assim uma tipologia de vinho que mais tarde foi chamada de Super Tuscan, mas que naquele momento ainda não era chamado dessa forma e não era o fenômeno que se transformou no mundo enogastronômico.

De vinho de mesa a vinho IGT

Rapidamente o Sassicaia abriu caminho para outros produtores. Nasceu um outro grande vinho Super Tuscan: o Tignanello do Marquês Antinori que unia o Sangiovese ao Cabernet Sauvignon. Com a presença do Cabernet o Tignanello não poderia ser chamado de Chianti Clássico e muito menos ser definito DOC (Denominação ãde origem controlada). Os Super Tuscans começaram a ser vendidos com a denominação mais baixa da pirâmide dos vinhos italianos: vino da tavola (vinho de mesa), apesar do preço ser muito mais alto do que muitos vinhos considerados DOC.

Somente em 1992 foi introduzida na Itália a denominação IGT (Indicação Geográfica Típica), a qual foi aderida por muitos produdores de Super Tuscan. Inicialmente os Super Tuscans não foram muito bem recebidos no mercado italiano, mas em compensação receberam muitos reconhecimentos no mercado internacional, principalmente nos Estados Unidos. E foi alí que esses vinhos receberam o nome de Super Tuscan. Provavelmente foi Robert Parker, um crítico de vinhos americano de renome internacional que inventou o termo Super Tuscan. Parker foi também um dos primeiros a reconhecer a qualidade desses vinhos.

Características dos Super Tucans

Hoje, fazem parte da categoria dos Super Tuscans os vinhos produzidos com Sangiovese, Cabernet, Merlot e o Syrah. Existem também algumas vinícolas que produzem o Super Tuscan utilizando somente o Sangiovese. Os Super Tuscans são vinhos encorpados, propensos ao envelhecimento e acima de tudo, fogem das regras de produção estabelecidas pelos diciplinares, criando um estilo fora dos controles rígidos das tipologias DOC (Denominação de origem Controlada) e DOCG (denomição de origem controlada e garantida), como uma espécie de rebelião a certificação e a enologia tradicional da Toscana. Uma outra característica dos Super Tuscans é a utilização de “barrique” (pequeno barril feito com carvalho francês) ao invés dos grandes barris feito com carvalho da Eslavônia, o famoso carvalho slavo. Vale lembrar também que o termo Super Tuscans não possui nenhum valor legal, não pertencendo assim a nenhuma denominação oficial italiana.

Entre os principais Super Tuscans podemos mencionar o Sassicaia, Tignanello, Solaia, Ornellaia e Macetto.


Cristiane de Oliveira

Brasileira do Rio de Janeiro, vive em Florença ha 17 anos. Apaixonada por arte, historia e bons vinhos. Guia de turismo e sommelier na Toscana.

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