Ferdinando I de’Medici em 1588 decide construir a grande cozinha de Palazzo Pitti, conhecida como “Cucinone” ou cozinha real. As obras demoraram quase 15 anos para serem concluidas.

Palazzo Pitti foi construído por Luca Pitti em meados de 1400 e comprado no século seguinte por Cosimo I dei Medici e sua esposa Eleonora de Toledo. O Pitti reserva muitas surpresas além do grande número de obras primas que todos os anos atraem milhares de visitantes. Uma dessas surpresas é a grande cozinha, conhecida como Cucinone realizada no século XVI durante o governo de Ferdinando I dei Medici. No artigo de hoje, iremos conhecer um pouco desse ambiente quase desconhecido, mas muito importante: a cozinha do Palazzo Pitti.

Foto Ale Baiocchi

A cozinha do Palazzo Pitti

Desde dos primeiros anos do período mediceo, quando o Palazzo Pitti ainda não era a residencia principal da família Medici, (inicialmente os Medicis utilizavam o Pitti como residência de representação), existiam duas cozinhas: a cozinha secreta, utilizada pelo grão-duque e a cozinha comum, destinada aos hóspedes.

A cozinha secreta era situada na extremidade da ala esquerda do pátio do palácio e compreendia dois cômodos que hoje são ocupados pelo bookshop; a outra cozinha era localizada simetricamente, na ala oposta, hoje ocupada pelo bar-restaurante.

A primeira cozinha a ser construída foi a secreta, A ala esquerda do Palazzo foi construída no ano de 1561 por  Ammannati, a pedido de Cosimo I dei Medici. Para construir essa ala, Ammannati teve que escavar a colina, pois essa parte do terreno subia em direção a muralha da cidade. Os trabalhos foram feitos muito rapidamente e provavelmente em 1566 a cozinha secreta já estava pronta. Não faltavam oportunidades para utilizar a a cozinha do Palazzo Pitti, pois sendo escavada na rocha, era ideal para a conservação dos alimentos.

Nessa época, o Palazzo Pitti não era ainda a residência oficial dos Medici. Durante o governo de Cosimo I e Francesco I, a residência oficial da família ainda era o Palazzo di Piazza (Palazzo Vecchio). O Palazzo Pitti era utilizado principalmente para acolher hóspedes reais, embaixadores que chegavam de toda parte do mundo. Assim, era muito frequente as festas, almoços, banquetes, para os quais eram necessário ter uma cozinha bem equipada.

A construção da ala direita aconteceu um pouco mais tarde, em torno ao ano de 1570. As primeiras notícias da construção da cozinha comum remonta ao ano de 1575. A cozinha comum servia também para a preparação e conservação dos alimentos.

Neste período, a vida no Palazzo Pitti acontecia ao redor do vasto pátio, pois a maior parte dos ambientes do palácio tinha vista para esse ambiente. É muito fácil imaginar o Grão-duque, cardinais, camareiras, operarios passarem pelo pátio do Palazzo Pitti. É mais fácil ainda imaginar as vozes dos cozinheiros, rumores de panelas que vinham das duas cozinhas e que eram ouvidos no pátio. Imaginem que loucura!

Cucinone de Ferndinando I – A grande cozinha de Ferdinando I

A Luneta de Utens onde é possível ver a localização da cozinha feita por Ferdinando I.

Uma das primeiras intervenções no âmbito do Governo de Ferdinando I dei Medici – depois de finalmente ter transferido a residência ducal para o  Palazzo Pitti – foi a construção de novas cozinhas, iniciada em 1588, para liberar o pátio monumental destas funções de serviço. O novo edifício foi construído fora do palácio, e conectado a ele por uma ponte pequena coberta inicialmente com madeira e depois com alvenaria, conforme aparece na Lunetta de Utens pintada no final do século XVI.

Foto: Ale Baiocchi – As aberturas quadradas, era onde se colocava a lenha para queimar, e em abaixo, a abertura semi circular, ficavam guardadas as lenhas.

As obras da nova cozinha foram concluídas em 1599, pouco antes do casamento de Maria dei Medici – filha do falecido grão-duque Francesco I, irmão mais velho de Ferdinando I – com o rei francês Henrique IV; o grande banquete aconteceu no Palazzo Vecchio na noite de 5 de outubro do ano seguinte, mas as festividades continuaram nos dias seguintes também no Palácio Pitti.

Foto: Ale Baiocchi

Hoje desse grupo original de cozinhas sobreviveu apenas o ambiente descrito como “cozinha comum”. Posteriormente, na época dos Lorenas, foram adicionados novos fornos e novos capuz pintados, o ambiente ficou conhecido como “Cozinha Real.”

Em frente a grande lareira, do fogão, das pias feitas de pedra e mármore, é fácil imaginar a atividade frenética que acontecia neste lugar durante os grandes almoços e banquetes. 

A cozinha funcionava muito provavelmente 24 horas por dia. No século XVIII, trabalhavam nesta cozinha cerca de 50 a 70 pessoas.

Lareira e instrumentos de trabalho

Foto: Ale Baiocchi

O elemento proeminente da cozinha ainda é a magnífica lareira com o capuz feito em torno 1598-1599, provavelmente um projeto de Bernardo Buontalenti. A estrutura que termina em uma elegante chaminé, é caracterizada por um magnífico capuz pintado de vermelho em feliz harmonia com as paredes claras.

Fogão Lorenas – Foto: Ale Baiocchi

A cozinha possui um outro fogão construído pelos Lorenas, decorado com azulejos de motivos florais, provavelmente da Manifatura Ginori. Os azulejos antigos foram limpos e restaurados, enquanto os que faltavam foram integrados com os novos, reconhecíveis pelo fundo creme imitando o design original.

O fogão que vemos na foto, não é original, ele foi restaurado. Na foto acima podemos ver no angulo, os azulejos de cores mais vivas, esses ainda são originais.

Foto: Ale Baiocchi

O ambiente de preparação dos alimentos compreende uma série de utensílios de cozinha – panelas, frigideiras e até mesmo moldes de pudim de vários tamanhos em cobre, além de pilões de madeira e conchas de latão – tudo proveniente do PalazzoPitti e ainda em uso após a unificação da Itália, quando o palácio se tornou o novo palácio real dos Savoias.

Estas ferramentas de cozinha são úteis para evocar a atmosfera de uma sala de serviço devidamente equipada que é perfeitamente funcional para as necessidades da vida da corte. Os grandes jarros de terracota, originalmente destinados a preservar o vinho e o óleo, foram encontrados nas abóbadas do palácio, onde foram usados como elementos estruturais.

Foto Ale Baiocchi

A cozinha foi musealizada e é possível visitá-la com o bilhete de ingresso da Galleria Palatina. A visita da cozinha deverá ser reservada, pois é feita em horários pré-estabelcidos pelo museu para um máximo de 25 pessoas.

Reparem que na pia, podemos observar uma torneira. Sim, no século XVIII, já tinha água corrente na cozinha do Palazzo Pitti.

Desejas conhecer o Palazzo Pitti com uma visita guiada em português fale conosco!


Cristiane de Oliveira

Brasileira do Rio de Janeiro, vive em Florença ha 17 anos. Apaixonada por arte, historia e bons vinhos. Guia de turismo e sommelier na Toscana.

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