Maestà Duccio di Buoninsegna (1308-11- Museu da Opera del Duomo de Siena). Ansano é o primeiro à esquerda ajoelhado – foto: Wikipedia

Todos os anos, milhares de visitantes se encantam diante da famosa “Maestà” (1308-1311) obra do pintor Duccio di Buoninsegna, que está conservada no Museo dell’Opera del Duomo. Mesmo sem conhecê-lo, esses admiradores prestam homenagem a Sant’Ansano, o primeiro patrono da cidade.

A Importância de Sant’Ansano para Siena

Simone Martini, A Virgem e o Menino entre os Santos Ansano (a esquerda com a bandeira de Siena) e André, ca. 1326 – Metropolitan Museum of Art, Nova York

Na Maestà de Duccio, Sant’Ansano ocupa um lugar de destaque aos pés do trono da Virgem, junto aos outros três protetores de Siena: São Savino, São Crescenzio e São Vittore. Sua história está profundamente entrelaçada com a identidade de Siena, e é impossível falar sobre os monumentos e a arte da cidade sem mencionar seu santo padroeiro. Para os sieneses, a Festa de Sant’Ansano, celebrada no dia 01 de dezembro de cada ano, simboliza o início do ano Contradaiolo. Durante a celebração, uma procissão solene parte da Piazza del Campo, onde as 17 Contradas se dirigem à Catedral. No altar do santo, o Arcebispo de Siena preside a Santa Missa, unindo a comunidade em devoção.

A História de Sant’Ansano em Roma

Segundo a tradição, Ansano nasceu em Roma no ano de 284, era filho do senador Tranquilino, parente do imperador Diocleciano. Desde jovem, ele foi tocado pela graça divina e, aos 12 anos, abandonou a casa paterna para se refugiar em uma catacumba, onde foi batizado pelo sacerdote Protasio. Determinado a professar sua fé, Ansano se apresentou ao imperador, acompanhado por sua madrinha Massima, que também havia se convertido ao cristianismo. Como resultado, foi preso e forçado a assistir ao martírio de Massima.

A Chegada a Siena

Giovanni di Paolo: Sant’Ansano que batiza os sieneses

Após escapar de Roma, Ansano percorreu a via Cassia, passando por Bagnoregio e Orvieto, até que um anjo o instruiu a ir para Siena. Foi lá que ele começou a pregar o Evangelho, atraindo multidões que se reuniam para ouvir suas palavras. Assim, os primeiros sieneses foram batizados e se converteram ao cristianismo, e Ansano é lembrado como o “batizador dos sieneses”.

A Igreja delle Carceri e a Torre de Sant’Ansano em Siena, na Via San Quirico

No entanto, a paz foi efêmera. O procônsul Lisia mandou esculpir estátuas de deuses pagãos e ordenou que fossem adoradas. Ansano, firme em sua fé, se recusou e foi preso em uma torre, que segundo a tradição, localiza-se na Via San Quirico, onde mais tarde foi construída a “Chiesa delle Carceri di Sant’Ansano”. Mesmo encarcerado, ele continuou a batizar os sieneses que buscavam a conversão.

O Martírio de Sant’Ansano

Um dos milagres mais notáveis de Ansano ocorreu durante sua tortura. Condenado a ser queimado na fogueira, as chamas se apagaram milagrosamente, permitindo que ele saísse ileso. Decidiram, então, que ele seria decapitado fora das muralhas da cidade, às margens do rio Arbia. Em 1º de dezembro de 304 (ou 303, segundo algumas fontes), perto de Dofana, na diocese de Arezzo, Ansano foi martirizado. No local de seu sacrifício, uma igreja foi erguida em sua memória.

As relíquias de Sant’Ansano

O corpo permaneceu enterrado por séculos em Dofana, na igreja paroquial que lhe foi dedicada no território da diocese de Arezzo, até que, em 1107, o bispo de Siena, Gualfredo, e o de Arezzo, Gualtiero, concordaram sobre a posse das relíquias: os seneses puderam ir buscar os restos mortais de Santo Ansano e os transportaram para o Duomo. A cabeça do santo foi, no entanto, levada para Arezzo. Em 1359, o corpo de Ansano foi queimado por um raio. Permanecem o braço esquerdo em Dofana e o direito em Siena. Um dedo encontra-se na Igreja Pieve de São João Batista em Sant’Ansano, no município de Vinci.

Sant’Ansano é fundamental para a história de Siena, sendo o primeiro a levar o sacramento do batismo à cidade. Sua devoção e legado continuam a inspirar os sieneses, que celebram sua vida e martírio com reverência.


Cristiane de Oliveira

Brasileira do Rio de Janeiro, vive em Florença ha 17 anos. Apaixonada por arte, historia e bons vinhos. Guia de turismo e sommelier na Toscana.

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