No dia 16 de outubro de 1523, morre o pintor renascentista Luca Signorelli. Signorelli é um dos grandes personagens ilustres que nasceram em Cortona, na Toscana.

Luca Signorelli

Signorelli nasceu em Cortona em 1450 (cerca) e foi um dos grandes mestres do Renascimento. Provavelmente foi aluno de Piero della Francesca. Ficou muito famoso pelo esmerado uso da perspectiva. Fez parte do seleto grupo de artistas chamados a Roma pelo Papa Sisto IV para decorar com afrescos a Capela Sistina no Vaticano. Em 1490 vai para Florença e entra em contato com a Academia Neoplatônica de Marsilio Ficino. Faz para os Medicis obras de grande beleza como Madonna col Bambino tra ignudi, hoje presente nas Gallerie degli Uffizi.

Segundo Giorgio Vasari, Signorelli foi um dos percursores de Michelangelo. De fato, os dois artistas têm o nu como o nó central de sua produção e também têm em comum o mesmo tema para sua obra-prima, o Juízo Final da Capela Sistina e o da Capela de São Brizio.

A Sagrada Família de Luca Signorelli

Sagrada Família de Luca Signorelli

Para celebrá-lo escolhemos a obra A Sagrada Família conservada nas Gallerie degli Uffizi datada de 1487-88. Trata-se de uma obra de grande beleza que vale a pena conferir ao vivo e nós estamos esperando por você no Tour dos Uffizi.

O tondo (forma redonda) era um tipo de formato geralmente caracterizado por cenas de um tema sagrado, encomendadas para residências ou para magistrados da cidade, como no caso desta obra. Vasari nos conta que o quadro em questão teria sido realizado para a Sala da Audiência dos Capitães de Parte Guelfa em Florença.

Além disso, o tondo de Signorelli é um dos primeiros exemplos conhecidos que retratam a Sagrada Família inserida em uma paisagem e serviu de modelo para toda uma geração de artistas, de Michelangelo com seu Tondo Doni, a Rafael Sanzio e Andrea del Sarto.

A monumental representação das figuras em primeiro plano quase invade o espaço real, é certamente o traço mais característico desta pintura.

A Virgem, caracterizada por uma tez perolada e envolvida por uma grande túnica vermelha com lapela verde, está a ler um livro, enquanto o menino Jesus se volta para São José, que se inclina para Ele. Jesus está de pé, apoiado a sua mãe, entre a ternura de Maria e a adoração e proteção de José. Os três personagens em sua monumentalidade ocupam todo o espaço pictórico, mal permitindo vislumbrar o fundo da paisagem.

Quanto à datação, os críticos inclinam-se para a segunda metade da década de oitenta do século XV, situando a obra pouco antes da realização das pinturas para Siena, onde o pintor chegou na década seguinte.

A Sagrada Família constitui para todos os efeitos um dos vértices da produção de Signorelli, prova da conquista da sua maturidade artística. De fato, nas mãos de São José e no perfil do Menino, surgem ideias derivadas de Bartolomeo della Gatta e Verrocchio, enquanto o rosto terno de Maria e o olhar humano de José revelam as novidades que caracterizam a última produção estilística do pintor.

São José

São José – Detalhe Sagrada Famía de Luca Signorelli

Tudo gira entorno do Menino Jesus. José parece que acabou de chegar com a sua echarpe colorida enrolada no pescoço, os braços cruzados em sinal de respeito, a expressão facial de um homem sábio e consciente dos próprios limites. Com uma das pernas, José fecha o espaço entorno ao Menino, como se quisesse protegê-lo.

Sagrada Família Luca de Signorelli

A sua figura se inclina para adequar-se ao espaço da obra, ou seja, ocupa o que lhe foi deixado, consciente da função que lhe foi concedida. José se aproxima de Maria e de Jesus pelas pontas dos pés em um comportamento que revela quase pudor e respeito diante do mistério da maternidade.

José possui o rosto triste, escavado e cinza. O contrate entre a cor apagada da sua pele e o colorido da echarpe parece revelar um estado interior. Ele parece muito preocupado, não com o mistério de um filho que não é seu, mas com a consequência deste mistério. Ele promete a Maria em silêncio que fará tudo para protegê-los – como se tivesse a dizer: eu vos observo, cuido de vocês, mas não os incomodo.

Virgem Maria

Detalhe Maria – Sagrada Família de Luca Signorelli

Maria é muito bonita e suas pernas estão estendidas e relaxadas. Um macio manto vermelho cobre o seu corpo. A sua pele é luminosa e a expressão do seu rosto é concentrada, absorto em ler o livro em suas mãos. Parece não ter melancolia ao pensar no destino de Jesus, como vemos em outras em outras obras. Maria é uma mãe serena que lê e instrui o Seu Filho.

Detalhe do livro nas mãos de Maria – Sagrada Família de Luca Signorelli

O livro apoiado no chão e aquele que tem entre as mãos representam a passagem da antiga religião fundada pelas Leis, àquela nova, fundada pelo amor. Não é assustada devido aquilo que acontecerá depois, mas vive o momento.

Detalhe do livro no chão – Sagrada Família de Luca Signorelli

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Cristiane de Oliveira

Brasileira do Rio de Janeiro, vive em Florença ha 17 anos. Apaixonada por arte, historia e bons vinhos. Guia de turismo e sommelier na Toscana.

2 comentários

Geraldo Silva · abril 26, 2021 às 12:21 am

Parabéns pela excelência da descrição. Objetiva, sem presunção técnica ou intelectual uma verdadeira tradução da arte para os menos atentos a sua complexidade.

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