Quase totalmente revestida de ouro, a Esfera Armilar é um instrumento fascinante e de nomenclatura peculiar. O termo “esfera” é fácil de entender, pois o instrumento possui uma forma esférica, mas o adjetivo “armilar” pode parecer complicado. Na verdade, “armila” é um substantivo latino que significa “anel”. Assim, a Esfera Armilar é composta por várias armilas, ou seja, múltiplos anéis.
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Dimensões e Materiais

Este instrumento tridimensional é a maior esfera armilar do mundo, com quase quatro metros de altura e um diâmetro máximo que supera os dois metros. A madeira de faia (em italiano, “faggio”) foi escolhida para sua construção. Essa madeira é facilmente curvável com o calor, mantendo a forma que lhe foi dada, e possui poucos nós, o que a torna menos propensa a fraturas. Além disso, a faia tem uma coloração clara, facilitando a pintura, neste caso, em dourado.

Restaurado no século XIX por Ferdinando Meucci, encontra-se hoje incompleta e inconsistente em algumas partes. A esfera, cujas partes em madeira são ricamente pintadas e revestidas com folhas de ouro puro, assenta sobre uma base com quatro sereias, fortemente restaurada no século XIX.Este exemplar é semelhante a outro, de menor dimensão, construído por Santucci em 1582 para o rei Filipe II de Espanha, hoje conservado na biblioteca do Escorial.
Contexto Histórico
A Esfera Armilar do Museu Galileu possui dimensões notáveis e é quase totalmente revestida de ouro, indicando que sua encomenda foi feita por alguém importante, ou seja Ferdinando I de’ Medici. O brasão da família Medici está representado na esfera. Ferdinando I encomendou a obra ao cosmógrafo de corte, Antonio Santucci, em 1588, um ano após receber a coroa de grão-duque da Toscana. Naquele ano, ele também se preparava para seu casamento com Cristina de Lorena, filha do duque Carlos III de Lorena e neta de Catarina de’ Medici.
A união entre Ferdinando I e Cristina de Lorena foi a ocasião para a criação da esfera armilar, que na verdade serviu como presente de casamento para a noiva. Embora o matrimônio tenha ocorrido em 1589, a esfera foi finalizada apenas em 1593. Cristina era uma mulher culta e refinada, com grande interesse pela ciência. Para seu primogênito, Cosimo II, foi escolhido como professor nada menos que Galileu Galilei. A esfera confirma sua finalidade como presente de casamento através da representação dos brasões dos dois. No lado direito da esfera, abaixo da coroa granducal, sustentada por duas figuras, podemos ver um brasão duplo: metade dos Medici e metade dos Lorena.
Conservação e Exposição
Desde 1948, a esfera armilar é conservada no Museu Galileu de Florença, embora tenha sido originalmente projetada para ser exibida na Sala dos Mapas Geográficos, ou Sala da Cosmografia, da Galleria degli Uffizi. Na mesma sala, Ferdinando expôs o Mapa-Mundi, realizado por vontade de seu pai, Cosimo I. Hoje, o Mapa-Mundi pode ser visto na Sala dos Mapas do Palazzo Vecchio, enquanto a Esfera Armilar está no Museu Galileu.
O que é a Esfera Armilar de Antonio Santucci?

A Esfera Armilar é uma representação do universo, refletindo a visão cosmológica do final do século XVI. Na época, a imagem mais conhecida do universo era a do filósofo Aristóteles, que defendia a teoria do Geocentrismo, onde a Terra era o centro do universo, cercada por nove esferas que giravam ao seu redor. A primeira esfera era a da Lua, seguida por Mercúrio, Vênus, e assim por diante, até o Sol, Marte, Júpiter e Saturno. Urano e Netuno não aparecem, pois ainda não haviam sido descobertos.
Os anéis visíveis no instrumento representam as esferas que giram ao redor da Terra. A esfera mais interna representa a Lua, seguida por Mercúrio, Vênus, Sol, Marte, Júpiter e Saturno. A esfera mais externa representa o Empíreo, que simboliza a visão cristã do universo aristotélico-ptolomaico, onde reside Deus e a hierarquia angelical.
Funções da Esfera Armilar
Antonio Santucci, o cosmógrafo responsável pela esfera, deixou um tratado que descreve suas múltiplas funções: observações astronômicas, cálculos astronômicos e determinação das horas. No entanto, essa esfera armilar não é funcional para observações astronômicas, pois não pode ser movida. Ferdinando I, embora culto, não era um astrônomo, e suas intenções eram mais estéticas do que científicas. O objetivo era impressionar os convidados com um instrumento magnífico.
Imagine a cena deslumbrante em que este instrumento se movia diante dos convidados. Na parte inferior, havia um disco com um furo, onde uma manivela permitia simular o movimento das esferas ao redor da Terra, de acordo com o sistema geocêntrico.
Aspectos Astrológicos
Embora não possua diversas funções astronômicas, a esfera é rica em detalhes astrológicos. Na época, astronomia e astrologia eram consideradas duas faces da mesma moeda, e cientistas como Galileu e Kepler também faziam horóscopos. Em 1609, quando Ferdinando I estava gravemente doente, Galileu foi solicitado por Cristina de Lorena para fazer a leitura do horóscopo. Infelizmente, Ferdinando I faleceu naquele ano.

Um detalhe interessante da esfera armilar é a representação dos signos do zodíaco na Eclíptica, que é o percurso aparente do Sol no céu ao longo do ano. Cada signo possui informações sobre suas características e os planetas associados. As cores de fundo dos signos variam: por exemplo, o fundo de Peixes é verde, representando os signos de água; Gêmeos, um signo de ar, tem fundo azul; Leão, um signo de fogo, é identificado pela cor vermelha; e Capricórnio, um signo de terra, é amarelo.
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