A Galleria degli Uffizi, em Florença, é um verdadeiro tesouro cheio de encantos. Passeando entre as obras de Botticelli, Leonardo da Vinci e Michelangelo, uma sala grandiosa rouba seu olhar: a impressionante Sala da Niobe.

A Sala da Niobe é um magnífico exemplo de arquitetura neoclássica, concebida pelo Granduca Pietro Leopoldo de Lorena, que queria criar um ambiente digno para abrigar um impressionante grupo escultórico descoberto em Roma nos primeiros meses de 1583. Esta descoberta ocorreu na vinha de Gabriele e Tomaso Tommasini, situada perto de San Giovanni in Laterano, e revelou treze esculturas, muitas das quais estavam em estado de conservação admirável.

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História de Niobe

Sala de Niobe -(foto Gallerie degli Uffizi)

A importância dessa descoberta é amplificada pelo fato de que quase todas as estátuas formavam um grandioso conjunto que retratava uma das histórias mais trágicas da mitologia antiga: a morte dos filhos de Niobe. Esta mulher, esposa do rei de Tebas, Amphione, ousou desafiar Latona, afirmando ser uma mãe superior. Essa arrogância foi severamente punida pela deusa, que enviou seus filhos Apolo e Artemide para exterminar os sete filhos e as sete filhas da insolente Niobe. Transformada em pedra, Niobe, dilacerada pela dor, continuou a chorar, e suas lágrimas se transformaram em uma fonte perene.

O grupo de esculturas

Filha de Niobe em fuga – Foto Gallerie degli Uffizi
Niobe que protege a filha menor. Foto Uffizi
Filho de Niobe ferido. Foto Galleria degli Uffizi

Desde o final do século XVI, os Niobidas foram realocados nos jardins da Villa Medici em Roma, no Pincio, e, em 1770, foram transferidos para Florença, sempre por vontade do granduca Pietro Leopoldo. A sala destinada a acolhê-los na Galleria degli Uffizi foi resultado de complexos trabalhos de restauração e organização no vasto espaço do Terceiro Corredor, que na época era conhecido como “lo Stanzone”. Sua inauguração ocorreu em 20 de fevereiro de 1780.

Além dos arquitetos Zanobi del Rosso e Gaspare Maria Paoletti, outros artistas contribuíram para essa obra-prima. Giuseppe del Moro criou a cobertura de caixotões decorada com rosetas douradas, enquanto os irmãos Grato e Giocondo Albertolli trabalharam nos estuques. Tommaso Gherardini foi responsável pelos camafeus e pelos motivos em grutesco nas janelas, e o pintor Filippo Lucci pintou as bases das estátuas. Em 1781, Francesco Carradori esculpiu os relevos em estuque das quatro lunetas da sala, onde encontramos representações de Apollo e Artemide disparando suas flechas.

Detalhe do teto da Sala de Niobe – Foto Gallerie degli Uffizi

Luigi Lanzi, em sua obra “A Galeria Real de Florença, aumentada e reorganizada por ordem de S.A.R. o Arciduca Granduca da Toscana”, publicada em 1782, descreveu a sala como “uma Regia”, comparando-a a algumas câmaras das Termas de Tito, mas incomparavelmente mais rica do que os modelos da época romana.

Um aspecto particularmente fascinante é a decoração “à antiga”, criada por Tommaso Gherardini, que se inspirou em dois livros inovadores da primeira metade do século XVIII dedicados ao estudo do mundo antigo: o Museum Florentinum de Anton Francesco Gori e As Antiguidades de Herculano expostas, publicado pela Regia Stamperia de Nápoles.

No fundo uma das telas de Rubens: Henrique IV rei da França na Batalha de Ivry. Foto Gallerie degli Uffizi

Por fim, a sala abriga duas impressionantes obras de Pieter Paul Rubens (Siegen, 28 de junho de 1577 – Antuérpia, 30 de maio de 1640), as maiores da Galeria: duas telas em pendant, A Chegada de Henrique IV em Paris e Henrique IV na Batalha de Ivry, que fazem parte de uma série de pinturas sobre a vida do rei da França, encomendadas pela rainha Maria de’ Medici para o Palácio de Luxemburgo, mas que permaneceram incompletas. Essas obras foram adquiridas por Cosimo III de’ Medici em 1686. Na parede oposta às janelas, encontram-se mais duas magníficas telas: O Senado Florentino Presta Homenagem a Ferdinando II de’ Medici, Eleito Granduca, de 1625, do pintor de corte Justus Suttermans (Antuérpia 1597 – Florença 1681) e a tela O Rapto de Proserpina, de Giuseppe Grisoni (Florença 1692 – Roma, 1769). Esta última imagem é baseada no cartaz que o artista preparou em 1732 para a série de tapeçarias chamada dos Elementos, destinadas à Arazzeria Medicea, na qual também participaram outros renomados pintores toscanos. O rapto de Proserpina simbolizava o elemento do fogo.

A Sala da Niobe não é apenas um espaço; é um testemunho da riqueza cultural e artística de uma época, convidando todos a mergulhar em sua história e beleza.


Cristiane de Oliveira

Brasileira do Rio de Janeiro, vive em Florença ha 17 anos. Apaixonada por arte, historia e bons vinhos. Guia de turismo e sommelier na Toscana.

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