Monteriggioni é um pequeno burgo localizado entre as cidades de Siena e Florença, bem no coração da Toscana. Construído em cima de uma colina circundada de vinhas e oliveiras, domina a paisagem desta região. É um dos burgos fortificados mais significativos da região Toscana e permaneceu incrivelmente intacto como se o tempo nunca tivesse passado no topo daquela colina.

Eternas rivais: Florença e Siena

Monteriggioni

A Idade Média é um período repleto de guerras e batalhas, onde as cidades eram assediadas. Todas as cidades possuíam uma muralha que geralmente era circundada de um fossado que eram alagados em ocasião
de assédio. As muralhas nas cidades mais importantes eram um grande sistema defensivo dotado de passarelas, torres e ameias.

A cidade era um lugar seguro, onde vivia a comunidade e onde eram guardadas as riquezas dos nobres e da população de forma geral. O castelo era um local fortificado, construído geralmente nas fronteiras da cidade, em um local alto, estratégico – quase sempre no topo de uma colina.

Siena e Florença representam um bom exemplo de cidades inimigas, que estiveram sempre em luta, ou seja, eram eternas rivais. Após o século XI, as cidades de Florença e Siena cresceram principalmente devido as atividades mercantis e comerciais. Os banqueiros e mercantes das duas cidades atravessavam a Europa, enriquecendo-se. Há muito tempo, o interesse das duas cidades eram em conflitos, seja por razão econômica, seja pelo controle do
território.

Na primeira metade do Século XIII, as fronteiras controladas por Florença estavam se expandindo, chegando quase aos portões de Siena (tô exagerando um pouquinho, né?!). Além da rivalidade econômica, as duas cidades eram inimigas também politicamente, mas isso é assunto para outro artigo.

Monteriggioni, uma fortaleza militar

Piazza Roma – Monteriggioni

Monteriggioni é um característico e antigo burgo localizado em cima de uma colina. É constituído de um enorme castelo que Siena construiu no ano de 1213 para se defender de Florença. O Castelo surge em uma posição muito estratégica, o que permitia avistar os inimigos à distância, rendendo assim, difícil o ataque da cidade rival. Para
os românticos de hoje, é difícil imaginar esse burgo bucólico, como uma grande fortaleza militar da República de Siena.

Hoje, Monteriggioni conserva quase intacta a sua cinta muraria (perímetro de 570 metros), datada do século XIII com suas torres quadriláteras. O acesso ao castelo era (e ainda é) feito através de duas portas, situadas nas extremidades: uma em direção sudeste (Florença) e a outra em direção noroeste (Siena e Roma).

O Castelo também era circundado por um fossado que era repleto de carvão. Em tempos de guerra, estes eram incendiados, para afastar os inimigos. Para construir o Castelo de Monteriggioni, foi necessário muito tempo, porque ele não servia somente para defender Siena, mas especialmente para abrigar as tropas seneses. Para isso, era
necessário construir habitações para os soldados, uma igreja, etc.

Entre os séculos XII e XIII, o Castelo de Monteriggioni foi teatro de longos e terríveis assédios, até o definitivo predomínio de Florença na metade do século XVI. Em 1526 os florentinos assediaram o castelo com uma infantaria composta de 2000 soldados e 500 cavaleiros. O Castelo de Monteriggioni, no entanto, resistiu e, em 25 de julho do mesmo ano, na batalha de Camollia, Siena derrotou o exército pontifício, aliado dos florentinos, que imediatamente
interrompeu o cerco.

Mas… Tem sempre um mas… No dia 27 de abril de 1554, o castelo foi praticamente entregue aos florentinos, sem nenhum tipo de combate, devido à traição do capitão Giovacchino Zeti. O traidor criou uma brecha no sistema defensivo da muralha, fazendo assim, que as tropas florentinas entrassem no castelo. Os habitantes de Monteriggioni
foram escravizados e levados para a cidade de Florença. Após a queda de Monteriggioni, na primavera de 1555, a cidade de Siena também caiu.

A lenda do Capitão Zeti

A traição foi algo tão clamorosa, que ainda hoje, segundo a lenda, a alma do capitão Zeti não consegue repousar em paz. Reza a lenda que existe uma galeria secreta que parte do poço da Piazza Roma (Monteriggioni) e vai até Siena. Nesta grande galeria, o espírito do capitão, amargurado pela culpa, vagueia à procura de paz. Os habitantes de Monteriggioni, juram de pés juntos, que nas noites de lua cheia é possível sentir pelos campos nos arredores da cidade, o barulho do trote de um cavalo e os gemidos do capitão. Quem passar uma noite de lua cheia em Monteriggioni, vem aqui contar para gente!

Monteriggioni na Divina Comédia

A muralha e as torres de Monteriggioni inspiraram o Sumo Poeta quando ele escreveu a Divina Comédia. Dante e o seu mestre Virgílio, estão se aproximando do nono círculo do Inferno, local onde os traidores são castigados. De longe, Dante diz ter visto diversas torres, imensas e pergunta a Virgilio que cidade seria aquela. Virgílio responde que de longe e na escuridão os nossos sentidos podem ser enganados e que é melhor apertar os passos para poder ver as torres de perto.

Ao se aproximar, Dante se dá conta da realidade e do seu erro: não eram torres, mas sim gigantes. Eram gigantes que estavam no poço e que eram visíveis somente do umbigo pra cima.

Dante assim escreve:

“… Pois assim como Monteriggioni é cercada por uma coroa de torres, do mesmo modo na margem que circunda o poço central, torreavam-na horríveis gigantes com a metade do corpo, contra cuja ameaça, Júpiter ainda esbraveja.” – Inferno, Canto XXXI (40-45)

Inferno – Representação de Dupré

Se deseja saber mais curiosidades de Monteriggioni, agende já a sua visita conosco!


Cristiane de Oliveira

Brasileira do Rio de Janeiro, vive em Florença ha 17 anos. Apaixonada por arte, historia e bons vinhos. Guia de turismo e sommelier na Toscana.

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