Ferdinando II de’Medici é filho primogênito de Cosimo II e Maria Maddalena da Áustria, irmã do Imperador Ferdinando II.
Os 50 anos do reino de Ferdinando II sinalizam um grande declínio na ilustre família Medici. O testamento de Cosimo II impunha disposições claras para garantir um bom governo do Estado durante a menor idade do seu filho. As duas regentes, Cristina de Lorena e Maria Maddalena da Áustria, foram incapazes de governarem, além de serem exageradamente amantes do luxo gastando assim somas fabulosas com vestidos.
Além de tudo, Cristina de Lorena que era muito religiosa, foi presa fácil para o clero, que em pouco tempo controlou todos os negócios da Toscana. Ela obedecia todas as ordens com a mais cega submissão. Assim, as ordens deixadas em testamento por Cosimo II, foram desobedecidas e o imenso tesouro deixado por ele e que só deveria ser tocado em caso de calamidade pública ou para pagamento dos dotes das donzelas Medici, foram chacoalhados durante os oito anos de regência das duas mulheres. A absoluta incapacidade administrativa e a subordinação as autoridades eclesiásticas produziram um mau governo do Estado.
A grão-duquesa Maria Maddalena da Áustria possuía uma posição secundária na regência, pois a sua nomeação foi apenas uma formalidade. Assim, o poder permaneceu principalmente nas mãos da sua sogra Cristina de Lorena. Com a morte de Cosimo II, Maria Maddalena tinha oito crianças pequenas para educar e ela demonstrou muito bom senso na educação dos filhos.
Ferdinado II era um homem de personalidade muito doce e afetuosa, porém tinha um grande defeito: era muito influenciado pela avó Cristina de Lorena, mesmo depois que ele assumiu o trono.
O ducado de Urbino
Em 1623, quando Ferdinando II havia 13 anos de idade, a sua jovem tia Claudia de’Medici ficou viúva com apenas 19 anos. Assim, Claudia retornou a Florença com a sua filha Vittoria della Rovere. Vittoria, ainda bebê, foi prometida ao seu primo Ferdinando. A ideia era unir o Grão-Ducado da Toscana com o Ducado de Urbino, o qual Vittoria era a única herdeira.
Claudia era filha de Ferdinando I e Cristina de Lorena. Recebeu o nome em homenagem a sua avó materna, Claudia de Valois, filha de Catarina de’Medici.
Aproveitando o fato de Francisco Maria della Rovere, avô paterno de Vittoria, ser um homem idoso e doente, além de ser incapaz de se impor a Igreja, o Papa Urbano VIII promulgou uma bula onde declarou que a sucessão do ducado de Urbino pertencia aos herdeiros varões. Este documento só permitiu que Vittoria herdasse os bens.
Todavia, a família Medici poderia reinvidicar Urbino, pois Catarina de’Medici, avó de Cristina de Lorena, era a fillha de Lorenzo duque de Urbino e antes de morrer, passou a neta todos os direitos sobre os bens dos Medici, incluindo o ducado. Assim, Ferdinando II, poderia reinvindicar Urbino não somente através da mulher. Mas o Papa Urbano enviou as suas tropas para o ducado e ninguém em Florença se opôs. Pouco depois, os Medici aceitaram formalmente a anexação de Urbino ao Estado Pontifício.
Em 1625 Claudia de’Medici, mãe de Vittoria della Rovere, se casou pela segunda vez. O noivo escolhido foi Leopoldo V, arquiduque do Tirolo, irmão de Maria Maddalena da Áustria, cunhada de Claudia. Assim, Claudia se transferiu para Schloss Amras, mas deixou em Florença a pequena Vittoria, que tinha apenas três anos de idade. A educação de Vittoria della Rovere foi confiada a Maddalena, irmã de Claudia, no convento della Crocetta, onde a menina ficou trancada até completar 14 anos de idade.
Em 1627, antes de assumir o grão-ducado da Toscana, Ferdinando fez uma viagem de instrução. Inicialmente foi à Roma e depois à Viena para encontrar o tio materno, o Imperador Ferdinando II da Áustria. No ano seguinte, ele retornou à Florença e assumiu o governo da Toscana.
Afetuoso com a mãe e com a avó, Ferdinando II não soube priva-las de nenhuma autoridade, e assim, as duas grão-duquesas continuaram a influencia-lo.
Vittoria della Rovere
Em 1634 Vittoria completou 14 anos de idade. O casamento com Vittoria trouxe para Florença diversos bens, inclusive obras de arte que pertenciam ao ducado de Urbino. Assim, entraram na coleção Medici os retratos dos duques de Urbino de Piero della Francesca, o retrato do Papa Júlio II de Rafael, os retratos de Francesco I della Rovere e Eleonora Gonzaga de Tiziano e a famosa Vênus de Urbino, também de Tiziano, além de outras obras-primas que vemos ainda hoje nos museus de Florença.
Ferdinando iniciou com Vittoria della Rovere uma vida conjugal que, ao contrário da do pai e do avô, não se revelou feliz. Contribuíram para a natureza atormentada da relação as tendências homossexuais que o grão-duque manifestou precocemente, além do fanatismo religioso exasperante de Vittoria, que além de ter sido educada em um convento, foi dominada por toda vida pela autoridade religiosa.
Vittoria tinha uma personalidade colérica e foram infinitas as brigas provocadas por ela. Por um tempo o casal viveu separado, cada um ocupando uma parte do palácio Pitti. O casal se encontrava somente em cerimônias públicas. Todavia, depois de 17 anos, os conjugues se reconciliaram.
Desta união incompatível nasceram contudo quatro filhos: os dois primeiros viveram poucas horas; Cosimo III nasceu em 1642, enquanto em 1660 veio a luz Francisco Maria.
A pior coisa que Vittoria fez, no entanto, foi insistir em dar ao filho primogênito, Cosimo, uma educação que era certamente mais adapta a um futuro religioso, e não a um jovem destinado a subir no trono. O resultado desta educação foi terrível para o próprio Cosimo e para a Toscana.
Galileu Galilei
O reino de Ferdinando II é ligado ao processo e a condenação de Galileu Galilei. O Grão-duque havia sido discípulo e protetor de Galileu e, embora não pudesse se opor aos pedidos do Santo Ofício – é preciso lembrar que na época ele tinha apenas 22 anos – trabalhou vigorosamente para garantir que o cientista pisano fosse reconhecido como inocente e deixado livre para continuar seus estudos.
Durante o julgamento de 1633, Galieu foi hospedado na Villa Medici de Roma. Ferdinando conseguiu obter que a pena da prisão de Galileu fosse comutada para a obrigação de residir na villa de Arcetri. Alí Galileu viveu, embora confinado, numa atmosfera de estima e respeito, também sublinhada pelas visitas que lhe foram feitas por Ferdinando II e seus filhos.
Galileu teve uma relação muito estreita com Ferdinando II e sua Corte, principalmente porque os interesses culturais do Grão-Duque estavam profundamente em sintonia com os do antigo mestre.
Ferdinando II e a ciência
A partir de 1640, o Grão-Duque iniciou uma atividade informal de experimentação na Corte. Experimentos foram feitos com os primeiros termômetros já construídos, a umidade do ar foi medida com o higrômetro de condensação, “a gravidade ou leveza de uma coisa líquida” com o hidrômetro.
Em 1644, na estufa de cítricos do Jardim Boboli, uma espécie de incubadora artificial foi experimentada para dar à luz aos pintinhos, com base na temperatura medida com um termômetro de 60 graus colocado sob uma galinha chocadeira. Essas atividades experimentais constituíram a premissa a partir da qual teve início a Accademia del Cimento, fundada em 1657 por seu irmão Leopoldo. Ferdinando é lembrado por seus contemporâneos como um homem de cultura e ciência.
A morte de Cristina de Lorena
Em 1636, Ferdinando II, envergonhado das muitas humilhações impostas das subordinações aos jesuítas, decidiu se liberar finalmente da autoridade de Cristina de Lorena. Mas em dezembro do mesmo ano, Cristina de Lorena faleceu com 72 anos de idade. Ela deixou um legado terrível ao grão-duque: a máquina estatal estava inflada de clérigos infiltrados em todos os departamentos públicos, enquanto as Ordens monásticas, tradicionalmente isentas de impostos, eram proprietárias de grandes latifúndios. Toda a carga tributária, assim, recaiu sobre a classe média, desencorajando os investimentos fabris e comerciais, provocando danos incalculáveis à economia.
Ampliação do Palazzo Pitti
Em 1640 Ferdinando II, decidiu ampliar o Palazzo Pitti. A ampliação duplicou a dimensão do palácio. Ferdinando fez decorar os tetos das salas do segundo andar do palácio pelos principais pintores da época: Pietro da Cortona, Ciro Ferri e outros. As decorações recordavam as recentes descobertas de Galileu e cada sala foi dedicada a um planeta ou a temas mitológicos como Prometeu, Ilíadas, Flora, etc.
Assim, o Palazzo Pitti se transformou em um modelo que diversos soberanos europeus copiaram, mas sem obter o mesmo resultado. O Palácio construído por Cosimo o Velho em 1430 tinha superado todos aqueles existentes no século XV, e do mesmo modo, o Palazzo Pitti, construído aos pés das colinas de Boboli, superou todos os palácios europeus do século XVII.
A gruta construída no pátio do Palazzo Pitti, com cupidos de mármore que nadam na água proveniente da fonte, possui nas paredes o brasão de Vittoria della Rovere.
Os ciclos pictóricos do Palazzo Pitti
No campo artístico, durante o reinado de Ferdinando II, alguns ciclos pictóricos importantes foram realizados: a morte de Giovanni di San Giovanni, que havia realizado os afrescos do casamento do Grão-duque com Vittoria Della Rovere e a idade de Lorenzo, o Magnífico, protetor da Musas, Ferdinando chamou a Florença, em 1637, o pintor mais importante e inovador da época, Pietro da Cortona, cuja pintura barroca parecia a mais consoante com uma exaltação visual do poder da dinastia Médici. A partida para Roma do artista em 1647 interrompeu a decoração das salas dos Planetas da Galeria Palatina, a qual então foi concluída por Ciro Ferri.
Sistema de Governo de Ferdinando II
Um dos melhores sistemas do governo de Ferdinando II, foi adotado na segunda metade do reino, quando ele associou os seus três irmãos para administrar o Estado. Cada irmão assumiu um cargo com quase absoluta autonomia.
Um dos irmãos ficou responsável pelas questões militares, o outro da área financeira e o terceiro da parte política. Assim, cada ramo do governo foi bem administrado. O príncipe Mattia comandava o exército: era um grande militar e havia combatido por muito tempo na Germania, durante a Guerra dos Trinta Anos. Além do cargo de chefe supremo do exército, era também governador de Siena, onde adquiriu grande popularidade.
O Cardeal Giovan Carlo ficou responsável pelas finanças públicas. Foi nomeado cardeal pelo Papa Inocêncio X. Giovan Carlo foi um grande colecionador de quadros e outros objetos de arte e foi uma preciosa ajuda no governo de Ferdinando II. Giovan Carlo morreu em 1663 com a idade de 52 anos.
Dos irmãos de Ferdinando II, o mais brilhante foi o jovem Príncipe Leopoldo, que era responsável pela política, mas havia também uma grande paixão pela ciência e pela arte. Leopoldo é conhecido principalmente pela coleção de autorretratos da Galleria degli Uffizi. Mas ele foi fundador de projetos importantíssimos, como a célebre Accademia del Cimento, o qual foi um guia iluminado durante a sua brilhante carreira. Leopoldo foi um grande colecionador de obras de arte, muitas das quais, vemos ainda hoje nos museus de Florença. Após a morte do seu irmão, o Cardeal Giovan Carlo, Leopoldo foi nomeado cardeal.
Palazzo Medici
Considerado austero demais em relação à pompa da época, em 1659 Ferdinando II, decidiu vender o Palácio Medici ao marquês Gabriello Riccardi por quarenta mil escudos. Os Riccardi ampliaram o palácio para o norte e reestruturaram o seu interior suntuosas intervenções em estilo barroco.
É deste período a criação da chamada “Galeria dos Espelhos”, lindamente decorada na abóbada pelo maior pintor barroco da época, Luca Giordano (1682-1685), com um afresco que representa a Apoteose dos Medici.
A morte de Ferdinando II
Ferdinando II morreu em Florença em 28 de maio de 1670 após o agravamento da hidropisia da qual sofria; o funeral, caracterizado por uma pompa solene, foi celebrado na Basílica de San Lorenzo. O grão-duque foi sepultado no mausoléu da família, as Capelas Mediceas. Deixou dois filhos, Cosimo III, herdeiro do trono e Francesco Maria.
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