Único filho de Giovanni o Popolano e Catarina Sforza, ele nasceu em Forlí no dia 06 de Abril de 1498. Inicialmente foi batizado como Ludovico, em homenagem a Ludovico o Mouro de Milão, mas logo após a morte do seu pai, a mãe lhe deu o nome de Giovanni, em memória do falecido marido. Para sua segurança, sua mãe o enviou para Florença quando tinha apenas 18 meses de idade, sob a tutela do tio Lorenzo, o Popolano. Logo em seguida, Catarina Sforza foi aprisionada por César Borgia.

Giovanni o Popolano e Catarina Sforza, os pais de Giovanni dalle Bande Nere

Giovanni delle Bande Nere, havia cerca de 03 anos de idade quando sua mãe, liberada da prisão, foi ao seu encontro em Florença. Eles viviam na Vila Medicea de Castello. Com 08 anos de idade, foi enviado pela mãe para o convento de Annalena, onde ficou escondido. Um ano depois, voltou para a Villa de Castello, onde foi adestrado pela sua mãe em todos os exercícios físicos. Desde de criança Giovanni era apaixonado por armas, cavalos e tudo o que se referia a vida militar. Ele tinha uma personalidade fogosa e obstinada, mas era também carinhoso e generoso.

Era adorado pela mãe, que via nele todos os traços dos seus antepassados. Catarina sabia que somente força e valor não era suficiente para que o filho tivesse sucesso na vida militar, e por isso procurou os melhores mestres para lhe ensinar a guiar um exército e governar um Estado.

Giovanni dalle Bande Nere – Francesco Salviati – Galleria Palatina – Palazzo Pitti, Florença

Catarina morreu quando Giovanni tinha apenas 11 anos de idade. A sua tutela, segundo o desejo expresso por ela, passou a Jacopo Salviati, que juntamente com a esposa Lucrezia Salviati (filha de Lorenzo o Magnifico) educou Giovanni até que ele completasse 17 anos de idade.

Não foi fácil educar Giovanni, pois desde pequeno, não obdecia ninguém, a não ser a sua mãe. Com a morte de Catarina, ninguém mais conseguia impor a sua vontade, apesar de Giovanni ter demonstrado muito respeito por Lucrezia Salviati.

A família Salviati morava em uma casa na atual Via del Corso, famosa por ser aquela na qual no Século XIII, morou também Folco Portinari, pai da musa de Dante Alighieri, Beatriz Portinari. Ali Giovanni cresceu, estudando com muito amor tudo que pudesse ajudar a seguir a carreira militar.

Com a eleição do Papa Júlio II, os Medici do ramo principal reentraram em Florença. Giovanni assistiu a entrada dos parentes. O governo de Florença passou assim nas mãos de Giuliano, Duque de Neumours, irmão de Lucrezia Salviati. Com a morte de Júlio II, um outro irmão de Lucrezia Salviati subiu no trono de São Pedro: o Papa Leão X.

Esses dois eventos mudaram consideravelmente a posição dos Salviati em Florença e a partir daí Giovanni, filho de Catarina Sforza, começou a sonhar de poder entrar finalmente na carreira militar, aproveitando a influência que Lucrezia Salviati tinha com o Papa Leão X.

Em 1515, quando Giovanni tinha 17 anos de idade, o Papa Leão X o chamou a Roma. Ele logo ficou famoso por causa das suas diversas brigas e pelo caráter corajoso. Sabemos que durante esse período Lucrezia Salviati lhe enviou diversas cartas com bons conselhos, como faria uma mãe com o seu filho.

No ano seguinte, com 18 anos, Giovanni conseguiu o que desejou durante toda a sua vida: lhe foi confiado o comando de uma tropa de 100 cavalheiros para conquista de Urbino sob o comando de Lorenzo, sobrinho do Papa. Nesta ocasião Giovanni deu provas preciosas dos seus dotes como “condottiero”, tanto que logo em seguida foi promovido e começou a comandar tropas mais importantes.

Ele demonstrou logo que possuía as qualidades necessárias para ser um grande comandante e seus soldados começaram a idolatrá-lo. E não era só os soldados: Maria Salviati, filha dos seus tutores, a qual tinha crescido com Giovanni e conhecia todas as suas aspirações adorava aquele jovem soldado e era correspondida.

Maria Salviati, esposa de Giovanni dalle Bande Nere

Assim, em novembro de 1516, os dois jovens se esposaram. Este matrimônio serviu para unir os dois ramos da família Medici, pois a mãe de Maria Salviati era filha de Lorenzo o Magnífico e bisneta de Cosimo o Velho e Giovanni era bisneto Lorenzo o Velho, irmão de Cosimo.

A lua de mel durou muito pouco, pois logo Giovanni teve que retornar para as suas tropas. Ele não se limitava as operações de terras, pois uma vez, não encontrando batalhas em lugar nenhum, ele conseguiu organizar 03 barcos para perseguir os piratas que estava infestando as costas do Mar Adriático.

O seu crescimento na carreira militar foi muito rápido e logo Leão X lhe deu o comando de uma tropa de 4 mil soldados e 100 cavalheiros, com os quais deveriam invadir Fermo. Foi uma batalha muito difícil, mas as tropas de Giovanni conseguiram a vitória.

Maria Salviati e Giovanni dalle Bande Nere – Uffizi

Maria continuava a viver em Florença e no dia 12 de Junho de 1519, nasceu o seu primogênito, o qual foi dado o nome de Cosimo, em homenagem ao seu tataravô Cosimo o Velho. Segundo a tradição, Giovanni, para ensinar o filho a ser um homem corajoso, pedia para o menino se jogar da janela do Palazzo Salviati e o pai lhe esperava de braços abertos no pátio. Ninguém nunca contou o que Maria pensava dessa brincadeira.

Quando o Papa Leão X faleceu, Giovanni impôs que a sua tropa usasse um faixa preta em sinal de luto. Dessa forma, as suas tropas eram chamadas como “Bande Nere”, nome este que o próprio Giovanni ficará conhecido na história.

Giovanni dalle Bande Nere

Em 1521, quando Giovanni havia vinte e três anos de idade, iniciou a longa guerra entre Francisco I, rei da França e imperador Carlos V, e assim Giovanni teve um campo muito largo para exibir todo o seu talento. O nosso general Medici, vive pulando de um campo de batalha ao outro e raramente retorna à Florença para os braços da sua esposa e do pequeno filho Cosimo.

Em 1526, durante uma batalha, Giovanni é ferido na perna por um arcabuz, antiga arma de fogo portátil. Sua perna foi amputada, mas em vão, pois a infecção já estava muito avançada.

Após alguns dias de agonia, Giovanni deixa essa vida para uma melhor entre a noite de 29 e 30 de novembro de 1526. Seu corpo, vestido com uma armadura, foi sepultado em Mantova e somente em 1685 foi trazido para Florença, onde repousa no mausoléu da família Médici ao lado da esposa Maria Salviati.

Em 2013, os pesquisadores da Universidade di Pisa, fizeram a exumação de Giovanni. Foi descoberto assim que o médico que operou Giovanni, Mestre Abram, fez uma excelente cirurgia, mas nada pode fazer para salvá-lo, pois a infecção da cangrena estava muito avançada.

As análises dos restos mortais de Giovanni confirmaram que ele teve uma vida muito ativa e repleta de riscos. Os estudos do esqueleto, revelam Giovanni como um homem vigoroso, com cerca de 25-30 anos de idade e uma estatura de 1,74m, cranio médio e nariz estreito. Os estudos revelaram ainda um homem muito robusto e com diversas hérnias vertebrais, provavelmente por causa do peso das armaduras da época.


Cristiane de Oliveira

Brasileira do Rio de Janeiro, vive em Florença ha 17 anos. Apaixonada por arte, historia e bons vinhos. Guia de turismo e sommelier na Toscana.

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