Guiliano de’ Medici nasceu no Palazzo Medici em Florença no dia 25 de outubro de 1453. Era o último filho de Piero de’Medici e Lucrezia Tornabuoni.

Guiliano de’Medici – Sandro Botticelli

Como seu irmão Lorenzo o Magnífico, a sua educação em letras foi confiada ao humanista Gentile Becchi, mas os resultados foram muito modestos. Guiliano preferia a vida livre e despreocupada no campo aos estudos dos textos antigos. Na vila de Cafaggiolo, ele passou longas férias de verão, divertindo-se com a caça, pesca e outros passeios.

Ele havia somente 16 anos de idade, quando seu pai Piero morreu, deixando uma grave crise na família Medici. Os seguidores dos Medici se reuniram imediatamente após a morte de Piero, e decidiram reconhecer Lorenzo e Guiliano como herdeiros políticos de seu pai. Foi Lorenzo, de 20 anos, quem controlou a situação.

Nos primeiros anos após a morte de Piero, Guiliano desempenhou apenas um papel secundário. O protagonista na cena política sempre foi seu irmão, Lorenzo o Magnífico. A primeira viagem importante de Guiliano foi em 1469, quando foi a Roma buscar a cunhada Clarisse Orsini para contrair matrimônio com Lorenzo.

Lorenzo tentou organizar o matrimônio de Guiliano com nobres de diversas cortes italianas, mas ele sempre se opôs pois nenhuma das jovens estavam à sua altura.

Em 1472 Lorenzo propôs ao Papa Sisto IV de nomea-lo cardeal, para reforçar a posição da família em Roma e em Florença. Guiliano mais uma vez se opôs: aspirava a uma vida muito diferente e, acima de tudo, queria celebrar um casamento importante com alguma jovem nobre. Se Lorenzo encarnava a administração do poder, o bonitão e idealista Giuliano, expressava toda a alegria de viver no Renascimento. Felizmente para ele, o projeto de Lorenzo falhou devido aos conflitos políticos que surgiram com o pontífice.

A Justa de Santa Croce

Justa de Cavalos – Piazza Santa Croce – Stradano, Palazzo Vecchio

Na grande praça em frente a igreja franciscana de Santa Croce era comum a realização de justas de cavalos (combate entre cavaleiros armados com lanças realizado como forma de entretenimento ou exibição de uma festa). Torneios e justas eram as manifestações mais apreciadas pelos florentinos e a Praça de Santa Croce era um dos espaços urbanos mais aptos para a realização desse tipo de jogos.

Uma das justas mais famosas realizadas em Santa Croce foi aquela de Guiliano de’Medici, realizado em 29 de Janeiro de 1475. O torneio foi realizado por Lorenzo o Magnífico, Senhor de Florença e irmão de Guiliano, para festejar o acordo de paz entre as potências italianas.

O torneio de Piazza Santa Croce, onde aconteceu um desfile de magníficos trajes e armaduras. Numerosos são os convidados de honra do torneio, vindos de toda a Itália. Guiliano era vestido com uma armadura de prata. O elmo e o estandarte foram desenhados por Andrea del Verrocchio. A rainha da beleza do torneio era a jovem esposa de Marco Vespucci, Simonetta Vespucci.

Provavel retrato de Simonetta Vespucci

O vencedor do torneio ganharia um estandarte com um retrato de Simonetta realizado por Sandro Botticelli. Guiliano, que provalmente já tinha visto a bela Simonetta representada na oficina de Botticelli, era completamente apaixonado pela jovem.

Giuliano, fortificado pelo seu amor, venceu o torneio além de conquistar também o coração da Musa. A tradição diz que Simonetta teria se tornado amante de Guiliano, mas não existe nenhum documento histórico que comprove que tal relacionamento tenha existido.  Talvez o amor entre Giuliano e Simonetta fosse apenas platônico. O que é certo é que eles foram o casal mais admirado da Renascença.

Simonetta era a mulher mais bonita de Florença. Todos os artistas da época tentaram representar a sua beleza, mas ninguém conseguiu mais do que Botticelli. Ela morreu provavelmente de tuberculose um ano depois do memorável torneio.

Um poema para Guiliano

Para celebrar a vitória do torneio de Santa Croce, Agnolo Poliziano, um dos maiores poetas da época escreveu a chamada “Stanze per la Giostra”, um poema inacabado em língua “volgare” (antiga língua florentina, amada por Dante Alighieri).

Poliziano se inspirou a um texto análogo escrito por Luigi Pulci em 1469 para exaltar Lorenzo o Magnífico. A obra de Poliziano foi publicada pela primeira vez em 1484.

No primeiro livro Iulio, o clássico clássico diminutivo de Giuliano, é representado como um jovem bonito e corajoso, em perfeita adesão ao paradigma mítico de Hipólito. Ele vive em harmonia, desprezando o Amor e se dedicando aos exercícios físicos, a caça e a atividade poética.

No entanto, Cupido, com a intenção de se vingar, enquanto Iulio está ocupado em uma caçada, faz surgir diante dele uma esplêndida corça, que o jovem tenta, sem sucesso, alcançar. Quando os dois chegam em uma clareira, a corça se transforma em uma bela ninfa, Simonetta. Atingido pela flecha de Cupido, Iulio se apaixona pela jovem. O deus, satisfeito com o sucesso de seu plano, pode, portanto, voltar feliz para Chipre, para encontrar sua mãe, Vênus.

O segundo livro começa com a decisão de Vênus, informada por seu filho do ocorrido, de garantir que o amor de Iulio seja correspondido por Simonetta. Para que isso aconteça, é necessário, porém, que Iulio demonstre sua virtude lutando e obtendo a vitória em um torneio organizado para a jovem; Iulio é informado da decisão divina em sonho pelo próprio Cupido, que também lhe prediz a morte iminente de sua amada.

A obra é interrompida enquanto Iulio, ardendo de amor, se prepara para participar da justa. Provavelmente a interrupção foi devida a morte prematura de Guiliano na Conspiração dos Pazzi.

A conspiração dos Pazzi

Conspiração dos Pazzi, Stefano Ussi
Conspiração dos Pazzi, Stefano Ussi, Coleção Privativa

Guiliano foi morto com apenas 24 anos de idade na famosa Conspiração dos Pazzi, ocorrida em abril de 1478. Trata-se de uma emboscada, guiada pela família Pazzi, onde os dois irmãos seriam assassinados dentro do Duomo de Florença. Lorenzo conseguiu se salvar, mas Guliano teve um trágico final.

Guiliano foi sepultado na Sacristia Nova nas Capelas dos Medici, juntamente com seu irmão Lorenzo o Magnífico.

Em 26 de maio de 1478, exatamente um mês após o assassinato de Guiliano, nasceu seu filho ilegítimo que foi batizado com o nome de Giulio. Ele foi imediatamente acolhido na família e educado junto com os filhos de Lorenzo. Em 1523, Giulio foi eleito papa com o nome de Clemente VII.


Cristiane de Oliveira

Brasileira do Rio de Janeiro, vive em Florença ha 17 anos. Apaixonada por arte, historia e bons vinhos. Guia de turismo e sommelier na Toscana.

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